Resenhas

A. Savage – Thawing Dawn

Vocalista de Parquet Courts lança álbum solo interessante

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Ano: 2017
Selo: Dull Tools
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Folk Alternativo, Lo-Fi
Duração: 45:10
Nota: 3.5
Produção: Andrew Savage

Não se enganem: este é o vocalista e guitarrista dos americanos Parquet Courts, Andrew Savage, diminuindo seu nome para A.Savage e encarnando uma espécie de persona trovadora-folk-dylanesca. Sai a visão roqueira punk-modernosa do grupo e entra essa figura com guitarra nas mãos, fotos sépia na capa de discos e uma verve descritiva da pós-modernidade ianque, pelo menos em sua modalidade novaiorquina, mais especificamente da vizinhança do Brooklyn. Aliás, Savage é acompanhado por um monte de integrantes de bandas do distrito da Grande Maçã, integrantes de Woods, Ultimate Painting, PC Worship, EZTV, entre outras, dão as caras ao longo das dez faixas do disco, mostrando que este esforço pessoal pode – e deve – ser mais amplo e levar consigo as impressões de alguém contemplando sua maturidade, evento que a gente costuma chamar de “rito de passagem” ou, em inglês, “coming of age”. Vejamos.

Savage declarou em entrevistas recentes que o processo criativo de Thawing Dawn era consequência direta de uma maturidade que ainda estava em curso. Sua visão de americano esclarecido é a de alguém perplexo por viver num país que tem um presidente como Donald Trump, a antítese de gente como o próprio Savage e a maioria esmagadora de sua geração. E esse exercício de converter em música tal sensação é o próprio exercício do cantor-compositor, figura que Andrew encarna aqui. Ainda sob o ponto de vista geracional, o resultado de seu exercício de amadurecimento surge nessas dez faixas, algo bem longe do padrão voz/violão/guitarra. A maioria vem com approach de banda, com direito a revezamento de canções mais rápidas e outras contemplativas, reflexivas. É um disco, digamos, completo.

Claro, nem tudo dá certo num esforço como este. What Do I Do, a quinta faixa, é uma alternância entre um riff monótono (intencionalmente?) e uma tempestade de guitarras com timbres que lembram uma excursão por uma serralheria na hora de maior movimento. Não funciona muito bem. Mas a canção seguinte, Phanton Limbo, é o oposto, com uma levada Country/Folk harmoniosa e com uma letra que tem belos versos, especialmente: “Well I tried but I can’t forget/Because the one thing that matters most/Is the shape you take in my dreams”, que revela uma veia romântica que soa bastante eficaz no contexto do álbum.

O primeiro single do álbum, Winter In The South, tem estrutura simples e pinta de canção totalmente roqueira, pelo menos para o padrão 2017 com direito a metais e bateria nervosa. Ela contrasta com o épico obscuro e existencial que é Ladies From Houston, com mais de sete minutos de letra declamada e cheia de histórias para contar sobre as perdas de entes queridos. No fim do álbum, Untitled surge como uma fantasmagórica canção em que a voz de Savage duela com um órgão de igreja, sendo seguida pela faixa-título, que novamente assume um padrão Pop-Folk confortável e bem executado, dando essa última impressão como a zona de conforto de Andrew.

Thawing Dawn é um disco interessante, sério e comprometido com um movimento de “dizer a verdade” ao ouvinte, algo que é sempre legal e já ganha pontos logo de cara. Uma boa pedida.

(Thawing Down em uma música: Phantom Limbo)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.