Resenhas

Aaberg – Wishing Well

Entre o folk e o Lo-Fi, disco do britânico Hunter Mockett une frescor e melancolia

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Ano: 2024
Selo: Forged Artifacts
# Faixas: 10
Estilos: Folk, Lo-Fi
Duração: 30'
Produção: Hunter Mockett

Wishing Well é o novo trabalho do artista britânico Hunter Mockett, que se apresenta sob a alcunha de Aaberg. Com um repertório Lo-Fi, este é o primeiro álbum que se destaca na discografia do músico, que até então consistia de um apanhado de faixas soltas e experimentais. Elaborado como se estivesse destinado a navegar por baixo do radar, Wishing Well é o álbum de um artista em transição, de um inglês acolhido pelo Forged Artifacts, importante selo do Minnesota, nos Estados Unidos.

“10 AM”, encerramento do trabalho, parece nos transportar para um lugar limiar da consciência. Com sonoridade distante e plácida, a música, por estar no final do álbum, sugere a imagem de alguém que está indo dormir às 10 da manhã. E essa realidade invertida traduz bem o espírito do disco, que constrói um lugar onde observamos as coisas iluminadas por outro ângulo – uma perspectiva que não a de costume, o passar dos dias enquadrados por uma luz inesperada.

Há um frescor e uma melancolia inerentes a Wishing Well, que exibe músicas feitas inteiramente por uma pessoa (com exceção de alguns samples de bateria). Com acordes menores e timbres Lo-Fi, o álbum foi composto quando Mockett se mudou de país, do Reino Unido para a América. Por isso, é possível pressentir nas composições alguém perdido em um novo contexto, um pouco assustado, mas observando tudo com olhos cheios de esperança. Há uma temperatura amena, induzida pela pintura da capa, que mostra pessoas se refrescando em alguma fonte pública – a tal da “fonte dos desejos” no título –, imagem que, imagino eu, não deve ser tão comum nas partes mais setentrionais do continente europeu. Há uma intimidade por aqui, um apego provinciano, uma vontade de criar a partir de poucos recursos e de compartilhar um sentimento sem a certeza de que ele vai ressoar por aí.

No entanto, o álbum está amparado por uma boa tradição musical, a de cantautores confessionais e experimentais, de onde também vem Oliver Wilde, Angelo de Augustine ou Kiran Leonard. Por alguma razão, esse trabalho me lembrou a empreitada de Michael Cera na música, que talvez seja a epítome desse estadunidense expondo para o mundo mais a sua fragilidade do que a si mesmo.

Ainda é pouco o que se sabe sobre Aaberg, uma vez que sua presença online é bastante discreta, quase como se o artista quisesse que sua música falasse por si mesma. Os clipes disponibilizados por enquanto são aglomerados de “imagens caseiras”, digamos assim, quadros sem resolução e fora de contexto, que montam um mosaico de impressões de uma vida que, ao mesmo tempo em que é íntima, poderia ser a de qualquer um. Enfim, Wishing Well causa uma boa impressão e configura uma trilha sonora perfeita para te deixar pensando na vida, observando a paisagem e, como diria Drummond, botar você comovido como o diabo.

(Wishing Well em uma música: “NU”)

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ARTISTA: Aaberg

Autor:

é músico e escreve sobre arte