Não tem erro: Rockzinho Alternativo com cara de década de 1990, vocal emocionado e um repertório que se divide entre faixas animadinhas e baladas carregadas de sensibilidade. Quem ouve Driver superficialmente pode achar que Adult Mom é destas bandas que olham para um time que está ganhando e não mexem em nada. Uma atenção um pouco maior, porém, revela que, dentre tudo o que este seu terceiro álbum apresenta, não há indícios de nenhuma zona de conforto no que diz respeito ao conteúdo das letras.
De coração aberto, Stevie Knipe – voz e alma do projeto – narra histórias vividas a dois e as consequências sentimentais dessas interações em suas vivências, relatando o amor e o desamor na perspectiva queer. São romances contados em primeira pessoa que, ao longo de meia hora, colocam o ouvinte na mesma posição de quem lê o diário de alguém, ou quem escuta alguém compartilhar várias intimidades de uma só vez.
Mas não há qualquer tipo de constrangimento nessa dinâmica. Pelo contrário, a franqueza dos versos e a interpretação carregada de sentimentos de Stevie causa admiração – pela beleza e pela honestidade – ao lado de um verdadeiro fascínio. Em uma época de tantas narrativas artificiais e filtros em fotografias, Adult Mom oferece uma dose de sinceridade, uma dose de vida real, em forma de música.
E é aí que a estética da obra entra em jogo. O diálogo com as referências de um Rock Alternativo que já é clássico resulta em um grande senso de familiaridade no ouvinte. É a escolha de timbres, o andamento próximo do Pop Rock em vários momentos e a própria voz de Stevie (que parece uma versão contemporânea e estadunidense da eterna Dolores O’Riordan, da banda The Cranberries). Tudo tem cara de algo que você conhece bem e há muito tempo.
A produção arrojada capricha em explorar caminhos com pequenos imprevistos para chegar a esse lugar já conhecido, como leves quebras no ritmo ou momentos de solo para o vocal de Stevie, com pouco ou nenhum acompanhamento. Não fosse assim, seus relatos sobre passar um mês apenas se masturbando e evitando ligações da ex (em “Sober”), por exemplo, poderiam gerar o mais puro constrangimento no ouvinte. Pelo contrário, ao invés do desconforto da exposição, fica o prazer da conexão com sua realidade.
(Driver em uma faixa: “Checking Up”)