Resenhas

AFX – Orphaned Deejay Selek (2006-2008)

Richard D. James ressurge em projeto paralelo experimental

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Ano: 2015
Selo: Warp Records
# Faixas: 8
Estilos: IDM, Eletrônica, Experimental
Duração: 26:55
Nota: 3.5
Produção: Richard D. James

Richard D. James, mais conhecido como Aphex Twin, não é um cara muito normal. Podemos dizer que ele é um meio termo entre gênio e louco, um cara recluso, responsável por uma silenciosa revolução na música Eletrônica, que aconteceu/acontece enquanto quase ninguém nota sua presença. Assim foi nos anos 1990, quando surgiu em meio ao boom de artistas do gênero na Inglaterra, assim foi quando permaneceu ativo nos subeterrâneos por todo este tempo, assim é quando ele ressurge sob a forma de lançamentos, seja de arquivos digitais no SoundCloud, seja lançando um novo álbum, caso de Syro, no ano passado. Só que Richard não é somente Aphex Twin, ele também pode assumir a forma de AFX, uma persona ainda mais estranha, algo como se fosse algum programa musical numa Matrix na qual estamos e, claro, não percebemos.

AFX lança faixas desde 1991, em paralelo aos outros trabalhos de Richard/Aphex e, se há alguma característica que distinga as realizações sob esta identidade, podemos afirmar que são fragmentos de música, compostos e arranjados sob influências diversas, quase como se fossem programadas por computador. É como se as canções de Aphex Twin fossem colocadas numa máquina de cozimento a vapor e que só restasse delas as estruturas sintéticas, as sequências de encadeamento lógico, os alicerces robóticos do todo. A paisagem aqui tem zero melodia, mas concede alguma graça que paira no ar, algo que não dá pra explicar muito com palavras. A pista maior é que elas remetem aos últimos trabalhos lançados por AFX entre 2003 e 2005, conhecidos como Analords Series. Supostamente em sequência, viriam estas canções agrupadas em Orphaned Deejay Selek 2006-2008.

O terreno aqui é das batidas por minuto em alta rotação, da frieza quente dos cérebros eletrônicos, uma natureza de ordem e pouco caos, mas que soa muito mais imprevisível assim. As canções têm nomes como serge fenix Rendered 2, NEOTEKT72 ou dmx acid test, que atinge respeitáveis 144 bpm, trazendo de volta algo que esteve dominante nas pistas de dança lá em meados dos anos 1990. Mesmo assim, é uma rapidez em câmera lenta, algo que muda por conta de sua uniformidade. É música sem música, por assim dizer e quase se credencia como uma experiência completamente distinta da audição de alguma coisa com encadeamento lógico.

AFX retoma um caminho de estranheza, de paradoxo, de confusão, mas, em meio a todas as quebras de convenção possíveis, mantém-se coerente e capaz de dar nó em cérebros que se julgam conhecedores de quase tudo.

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BOM PARA QUEM OUVE: The Chemical Brothers, Four Tet
ARTISTA: AFX

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.