Resenhas

Alex Bleeker and the Freaks – Country Agenda

Baixista da banda Real Estate volta com novo disco de seu projeto paralelo

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Ano: 2015
Selo: Sinderlyn, Balaclava Records
# Faixas: 12
Estilos: Folk Rock, Rock Alternativo, Country Rock
Duração: 44:24
Nota: 4.0
Produção: Alex Bleeker

Alex Bleeker, caso você não saiba, é o baixista de Real Estate, aquela simpática banda de Nova Jersey, a Niterói americana. Enquanto o som praticado por ela é melancólico, marítimo, quase inglês em sua relação com uma perpétua e redentora chuva na praia à tarde, Alex tem uma saudável bipolaridade musical, cultivando admiração discreta por bandas douradas, como Grateful Dead ou Crazy Horse, que teimavam em fazer um Rock lisérgico, viajante, espacial, em algum momento da segunda metade dos anos 1960. Para levar adiante essa vontade de viajar sem sair do lugar, ele formou o combo The Freaks, cujo nome já revela as intenções: tocar Rock com tinturas Country, revisitando os caminhos percorridos por essa galera. Mesmo estando em pleno 2015, Bleeker não tem qualquer problema para demonstrar desenvoltura nesse terreno. Country Agenda é seu segundo álbum.

A vida que essas bandas cultivavam – que Alex Bleeker and The Freaks busca – é experimentada na Estrada, com maiúscula mesmo, esta entidade transformadora e mitológica onde tudo acontece. As referências de partida e chegada, a roquíssima visão de não criar limo, o entendimento do próprio Rock enquanto um caminho a ser seguido, todo esse conjunto de pensamentos sessentistas, contidos na própria origem do estilo está personificado nessas 12 canções redondíssimas que compõem Country Agenda. É claro que não há uma única letra de protesto ou engajamento político, a coisa é direcionada apenas para o simples “paz e amor”, com zero intenção de mudar o mundo no plano coletivo, optando por fazê-lo no âmbito pessoal, privado, uma trip do bem sem incomodar a ninguém. Essa visão ainda é forte nos Estados Unidos e Bleeker parece se esbaldar ao longo do disco.

A moldura que surge dos acordes, melodias e canções é eminentemente rural, das cidadezinhas na beira da estrada, da vida mais palpável, entre amigos, num sonho-acordado como cotidiano. O primeiro single, The Rest, é uma belezinha de quatro minutos, genuinamente saído de uma dobra temporal permanente, lembrando The Band e sua clássica canção The Weight, mas com graça e brilho próprios. Há momentos cheios de instrumentos tradicionais como o banjo subterrâneo e os graciosos violões em Little Dream I Had, a ode guitarrística em andamento rapidinho de California, o órgão bem trabalhado da faixa-título ou a boa linha de baixo com pontuações de guitarras em pedal wah-wah de Portrait, que tem letra com saudades de alguém sendo reativada pelo seu retrato. Tudo simples, brejeiro, na base do amor, bicho.

Há momentos de brilho em Country Agenda. Sealong Hair, por exemplo, com seu imaginário da Costa Oeste como Eldorado comportamental eterno, surge com bongôs e violões por toda parte. A melodia tradicional e o piano grandioso de Honey I Don’t Know e a contemplação meditativa de The Wind, tudo tem valor, faz sentido e se aconchega ao colo do ouvinte. Turtle Drove tem graça das canções tradicionais americanas que esse pessoal sessentista doidão revisitava como forma de afirmação de uma identidade americana anti-guerra, enquanto UHM é um interessante e pianístico instrumental, preparando o ânimo para a chegada do encerramento com They’ve Gone Home, solene e romântica.

Em um mundo perfeito este álbum sai do âmbito dos projetos paralelos e ganha fãs em profusão, nunca na base da nostalgia, mas por provar que essas sonoridades ainda são atuais, ficaram preservadas de toda a maldade e ambição que o homem branco construiu nesses últimos anos. Ou é isso que sentimos enquanto ouvimos as doze canções de Country Agenda e não consigo perceber muito a diferença nisso. Apenas ouçam.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.