Resenhas

Alex Cameron – Oxy Music

Quarto álbum do músico australiano tem a louvável intenção de fazer dançar em tempos difíceis, mas a tentativa de equilibrar seriedade e deboche causa desconforto

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Ano: 2022
Selo: Secretly Canadian
# Faixas: 9
Estilos: Indie Pop, Synthpop
Duração: 34'
Produção: Alex Cameron

Sim, é possível ser bem-humorado e sensível ao mesmo tempo – veja o que Father John Misty, por exemplo, tem feito ao longo da última década, com grande êxito. E faz sentido ser essa a proposta trabalhada pelo cantor, compositor e produtor australiano Alex Cameron em Oxy Music, quarto álbum em sua carreira, visto que ele chegou ao mundo ao mesmo tempo em que uma pandemia completava dois anos. É um momento complexo com muito desejo do riso e do gozo, mas muitas lágrimas e lamentações acumuladas ao longo do caminho, e trabalhar esse equilíbrio é uma ambição que poucos conseguem dar conta.

Vem daí o desconforto em alguns (muitos) momentos do álbum. À primeira vista, ele é um trabalho com preocupação de dialogar com um indie pop que conhecemos tão bem e que se encaixa com louvores na voz de Alex. Sua interpretação evoca ora Elton John, ora Rufus Wainwright com seus ares quase debochados, um tanto irônicos, e lembra bastante Mika também, pelo timbre e por outros motivos. Já os arranjos, timbres e a produção, no geral, estão bem inseridos em toda uma tradição já tão bem desenvolvida nas últimas décadas. Os instrumentos de sopro em “Prescription Refill”, inclusive, são o ponto alto de toda obra.

E essa reverência toda a um estilo já tão conhecido faz com que todo Oxy Music traga uma familiaridade incômoda já na primeira audição. Você sente, sim que já ouviu tudo aquilo antes tantas outras vezes, só que, desta vez, nesta dinâmica de querer fazer alguma graça com coisa séria. Ao longo do disco, ele brinca com questões existenciais, com a dependência de narcóticos tão presente nos países de primeiro mundo e faz comentários até mesmo sobre pessoas anti-vacina. Não são “piadas de mau gosto”, mas surge um clima que não bate bem e você se vê torcendo para a próxima faixa ser mais uma canção de amor ao som de sintetizadoeres, como suas referências sonoras fizeram tão bem no passado.

Ao chegar em suas duas últimas faixas, Oxy Music traz os únicos convidados de toda a obra e, com eles, seus piores momentos. Deixar “Cancel Culture” (com o rapper Lloyd Vines) e a faixa-título (com Jason Williamson) no encerramento faz com que ambas tenham uma cara de “faixas bônus” que ninguém pediu, ambas com uma aura de “deboche preguiçoso” que faz com que a audição do álbum, que ia razoavelmente bem até ali (ao menos em sua fluidez) tenha seus maiores defeitos explicitados. A intenção de fazer dançar com um som familiar em uma época tão marcada por dor e incerteza é nobre, mas o resultado aqui é uma obra que, em seus melhores momentos, é esquecível, e em seus piores, incômoda.

(Oxy Music em uma faixa: “Best Life”)

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ARTISTA: Alex Cameron

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.