Resenhas

Alexis Taylor – Beautiful Thing

Líder do Hot Chip surpreende em CD autoral e pessoal

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Ano: 2018
Selo: Domino
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Eletrônico
Duração: 47:25
Nota: 4.0
Produção: Alexis Taylor

Eu, você, nós dois e Alexis Taylor já temos um passado, meu amor. Ele, no caso, como encarregado dos vocais e do pensamento de Hot Chip e também como um artista solo que detém um número interessante de álbuns lançados em uma carreira sólida: cinco, com este simpático Beautiful Thing. Tudo bem que alguns destes discos eram exercícios cometidos sob o manto da titularidade na banda, algo que, talvez, não seria possível com um Zé Ninguém qualquer, decidido a gravar covers de clássicos Pop somente com acompanhamento ao piano ou algo assim. O fato é que Taylor tem a chance de lançar um disco de cantor/compositor com a cara de 2018 e ele aproveita a chance.

São dez faixas que misturam acessibilidade Pop com aquele toque de produção, composição, arranjo ou algo que nos dê a certeza de que estamos ouvindo uma produção sem preocupação com o sucesso fácil nos moldes atuais, o que significa dizer que há bom gosto, boas ideias e ótimas canções, pensadas numa perspectiva de banalidade zero. Ou seja: é um disco artístico e de boas intenções, que privilegia a audição e a descoberta, ainda que tenha uma ou outra faixa “dançante”. Taylor tem boa voz e estilo mas destaca-se aqui como compositor, assinando todas as canções, bem como pensando nos arranjos e execução da coisa toda. Em alguns momentos ele chega a arranhar a perfeição, como na faixa-título, que parece moldada em acrílico fumê importado via Túnel do Tempo diretamente de 1986/87. Aqui há uma melodia elegantíssima, que demora intensionalmente a surgir, de tantos adornos eletrônicos que surgem pelo caminho. Do meio pra frente, a linha de baixo soberana conduz tudo e temos aqui a melhor canção do álbum.

Há surpresas de sobra por aqui. Suspicious Of Me tem algum DNA funky que dá sinal de vida em poucos momentos, preferindo ficar subentendido em meio ao arranjo que se posiciona como se fosse uma homenagem ao Talking Heads modelo 1981. A Hit Song, logo em seguida, é uma canção que poderia ser de Elton John (que baita elogio) mas é coberta por camadas e mais camadas de gelo musical, tornando-se uma balada minimalista e pianística, com beleza extrema de melodia. Oh Baby é areja, solar, dançante e bem intencionada, com jeitão de Pop Eletrônico atemporal, com teclados marcando o ritmo e pianos por todos os cantos, uma belezura com bochechas prontas para serem apertadas.

A caminho do encerramento do disco, There’s Nothing To Hide investe no silêncio como instrumento de um arranjo esparso de voz e violão/guitarra, enquanto I Feel You surge como balada de ascendência beatle, com linearidade melódica sob uma roupagem mais moderninha. Out Of Time passa a régua, novamente com ritmo lento, contemplativo e um arranjo cheio de poeira espacial de teclados e climas.

Alexis Taylor caiu dentro da ideia de fazer um belo trabalho solo, bem diferente do que faz com Hot Chip. Só por essa noção de não-repetição, já mereceria respeito. Além disso, gravou um belo trabalho. Ouça sem preconceito.

(Beautiful Thing em uma música: Beautiful Thing)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.