Resenhas

Algiers – The Underside Of Power

Banda faz Punk do século 21 e abre caminho à força com sua massa de ruído sonoro

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Ano: 2017
Selo: Matador
# Faixas: 12
Estilos: Punk, Gospel, Experimental
Duração: 44:24
Nota: 4.5
Produção: Adrian Utley, Ali Chant

O movimento Punk do final da década de 1970 deixou ao mundo algumas lições. Algumas delas foram absorvidas no imaginário dos artistas com facilidade, enquanto outras diluíram-se com o passar do tempo. A ideia do DIY, o faça você mesmo, por exemplo, tornou-se um princípio fundamental na elaboração de trabalhos artísticos a partir de então. A fúria e a desorganização como estopins para novas possibilidades estéticas, por sua vez, sobrevivem sem a mesma universalidade. Não é incomum encontrar resistência, por parte da crítica como do público, em relação a músicas que não são “fáceis de ouvir”. Além destas, o mote político, em especial a resistência antifascista do movimento, permaneceu subsistindo praticamente reclusa a seu nicho. Atualmente, é possível observar, com tristeza, manifestações fascistas saindo da toca – sendo Charlottesville, na América de Trump, um dos casos mais emblemáticos dessa situação. Nesse movimento, a aparição e o fortalecimento de uma banda como Algiers faz todo o sentido: é o resgate do Punk enquanto sopro de resistência política e estética no século 21.

The Underside of Power segue a trilha desbravada com a estreia autointitulada do grupo, explorando o que significa ser Punk na contemporaneidade. Algiers fala com urgência, aliando ensinamentos do passado ao momento presente. Ou seja, a banda resgata sua herança anárquica, mas trabalha sob o paradigma da saturação de informação contemporânea.

Talvez o traço mais marcante do grupo seja o hibridismo que mescla fronteiras conceituais: sua música contém traços de Punk, como dissemos, mas também de Industrial e, mais importante, do Gospel e do Soul. Trata-se de um estilo multifacetado que só pode existir em nossos tempos. É mais ou menos o que faz Deafheaven com seu Death Metal que é também Emo e Post-Rock.

Alguns momentos são mais hipnóticos e outros menos, mas todos contém traços de uma evolução artística que não faz concessões. Bandas, movimentos sociais, filosofia, comentários políticos, tudo ao mesmo tempo, agora. Rage Against the Machine, Bad Brains, o movimento dos Panteras Negras, entre outros, falam no mesmo volume, gerando uma massa de ruído que abre caminho à força no panorama atual. Ouça Walk Like A Panther, The Underside of Power e Plague Years para ter uma ideia da paleta sonora oferecida pelo grupo. Imperdível.

(The Underside of Power em uma música: The Underside of Power)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte