Resenhas

Allegra Krieger – Art of the Unseen Infinity Machine

Novo álbum da artista estadunidense engrossa o caldo de referências e fala sobre a vida, a morte e a compreensão de uma realidade tão incessante

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Ano: 2024
Selo: Double Double Whammy
# Faixas: 13
Estilos: Folk, Indie
Duração: 33'
Produção: Luke Temple and Allegra Krieger

Do ano passado para cá, a compositora estadunidense Allegra Krieger passou por uma barra: o prédio no qual ela morava pegou fogo. Por pouco, com ajuda dos bombeiros, ela conseguiu escapar com vida. Sua vizinha, com a qual ocasionalmente cruzava pelas escadas, infelizmente, não teve a mesma sorte.

A tragédia marca uma mudança fundamental na música de Krieger. A observação do cotidiano, que era seu o forte em I Keep My Feet…, ainda é o mote por aqui, no entanto o incêndio que a acometeu a coloca mais filosófica, ponderando sobre questões mais essenciais e profundas: Art of the Unseen Infinity Machine traz a artista diante a vida e a morte e suas implicações.

Nesse sentido, o violão dedilhado e a atmosfera contemplativa do disco anterior dão espaço para guitarras mais próximas do shoegaze, se colocando numa tangente entre Mazzy Star e Sun Kil Moon. As melodias, mais monocórdicas do que antes, soando bastante semelhantes entre si, dão a entender que foram elaboradas em fluxo de pensamento. É claro, continua o enlevo com o dia a dia, as observações de uma artista que se depara com as poucas e boas que a realidade oferece: trabalhar atrás de um bar, levar as roupas na lavanderia, mergulhar em roubadas amorosas e assim por diante.

No entanto, há momentos em que a poesia se sobressai, com a manufatura das rimas improváveis e o seu poder de evocação, demonstrando a melhor ourivesaria da artista. Os versos da canção “New Mexico”, por exemplo – “Nothing here is mine to keep / I kiss the day and go back to sleep / And when I think of the one I love / I start counting stars above / But when I think of the ones I’ve lost /I  start counting up the cost” – são aparentemente fáceis e simples, exatamente o tipo de letra que exige muita elaboração e queimação de neurônios para atingirem o formato ideal.

O sexto álbum da artista – e o segundo pelo selo Double Double Whammy – engrossa o caldo de suas referências. Lançado apenas um ano após seu antecessor, soa mais verborrágico, com palavras fluindo tentando dar conta da velocidade dos acontecimentos desses nossos tempos malucos. A placidez e as reminiscências de antes dão lugar a uma artista mais ativa, pronta para viver, captar, transformar e registar o dia a dia e, assim, nos ajudar a entender uma realidade incessante.

(Art of the Unseen Infinity Machine em uma faixa: “Roosevelt Ave”)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte