Resenhas

Allison Crutchfield – Tourist In This Town

Cantora e compositora norte-americana estreia em álbum com graça e boas melodias

Loading

Ano: 2017
Selo: Merge
# Faixas: 10
Estilos: Indie Pop, Lo-Fi, Rock Alternativo
Duração: 32:31
Nota: 3.0
Produção: Jeff Zeigler

Tourist In This Town é o primeiro disco que Allison Crutchfield lança como artista solo. Na verdade, o primeiro trabalho dela por conta própria foi um EP, Lean It To It, que ela gravou em 2014, mas nada como colocar nas prateleiras físicas e virtuais do mundo um “álbum cheio”. Mesmo que o conceito tenda a perder significado por esses dias, entendemos, sim, que é um marco individual da moça e deve ser tratado como tal. Em termos musicais, a nossa área de interesse, Allison parece inclinada a seguir o mesmo caminho de três anos atrás, ou seja, enveredar por um Pop Alternativo bonitinho, Lo-Fi e, sem graça. Pois é.

Nativa de Birmingham, no estado norte-americano do Alabama e moradora da Filadélfia, Allison passou a maior parte do tempo de sua carreira musical ao lado da irmã gêmea, Katie. Fizeram parte de bandas adolescentes e adultinhas, sendo Waxhatchee a de maior sucesso e projeção. A receita permaneceu inalterada ao longo dos anos: alma de baixo investimento em gravações (o popular Lo-Fi), uma dose de Rock Alternativo noventista aqui, timbres apunkalhados ali, um cubinho de Folk acolá. Deu certo, mas nada demais. Era de se esperar alguma guinada estilística quando a moça adentrasse a carreira solo, mas o EP de 2014 aprofundou alguns defeitos chatos, especialmente por soar informal e amador em excesso. Nada contra o Lo-Fi, vejam, mas é que talvez o estilo esteja um pouco esgotado e não seja lá tão interessante num tempo em que qualquer um pode registrar gravações em seu quarto, certo? Discutiremos isso em outra hora.

Alisson apresenta aqui uma coleção de dez canções curtas, sempre com o revestimento simples como ponto de partida, mas nada que iguale a quase largação sonora intencional do EP . O produtor Jeff Zeigler ajuda a dar um pouco mais de consistência às gravações, especialmente pelo uso de uma gama interessante de sintetizadores. Há timbres legais em quase todas as faixas, mostrando pistas de referências nas cinco últimas décadas de música Pop, o que é legal. Há também uma diversidade de arranjos que oxigena a música da moça, além de uma simpática tentativa de equilibrar canções mais dançantes e agitadas com outras calminhas e climáticas, dando uma boa ideia de maturidade e versatilidade, o que também é sempre legal.

Broad Daylight é a faixa de abertura, toda calcada no clima dos sintetizadores, construindo uma atmosfera de expectativa, eclodindo lá no meio em guitarras, vozes e bateria, numa boa ideia de arranjo por parte de Allison e Jeff. A segunda canção, o single I Don’t Wanna Leave California parece uma demo bem acabada em arranjo mais Pop – no sentido elogioso do termo – de alguma canção de bandas como The Breeders ou Throwing Muses, algo que também é legal. Há um clima intrínseco de brilho do sol no rosto após um tempo longo demais de inverno e decepções. É nessas cançonetas que nossa menina se sai melhor, caso também de Dean’s Room, que tem clima puladinho e sintetizado lembrando os anos 1980 de forma simpática. Expatriate também é bonitinha, com um andamento lembrando Pop song dourada de sucesso na parada de, vejamos, 1964.

Tourist mostra claramente uma artista em fase de reinvenção e ascensão. Allison está mais segura, cantando melhor, com fome de bola e cheia de datas para divulgar o disco nos próximos meses. Lançada pela simpaticíssima gravadora Merge, a moça é promissora. Vamos acompanhar.

(Tourist In This Town em uma música: Dean’s Room)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.