A promessa que se cumpriu para Amber Mark não foi a que esperávamos, foi uma ainda melhor. Se seu lançamento anterior – o EP Conexão (2018) – apontava a um status de “Sade da nova geração” que a norte-americana fazia por merecer, Three Dimensions Deep apresenta a artista como uma espécie de “neo-diva do século 21”.
Isso porque o álbum traz tudo o que a indústria fonográfica parece desejar nos anos recentes, de canções de refrão grudento (como “FOMO”) e baladas sensuais (“On & On”) até faixas inspiradoras (“Worth It”). Há ainda um alinhamento mais do que adequado às tendências estéticas que o mercado abraçou, como os ritmos caribenhos (“Softly”) e até aquela intersecção do pop com o lo-fi hip hop (“Healing Hurts”). Ou seja, uma obra como todo disco deveria ser – no momento – para se dar bem . Mas isso, como disse, há algum tempo, então paira no ar um grande “e daí?” frente essas questões. E o álbum faz questão de responder.
Three Dimensions Deep, já na superfície, revela sua intenção de não ser “mais do mesmo”, ainda que a descrição de várias faixas possa ser simplificada (vide o parágrafo anterior). Há em cada faixa vários traços daquela Amber que conhecemos tanto em Conexão quanto em 3:33am (2017) – uma musicista que morou em diversos cantos do globo e carrega em si tanto o movimento, ou “trânsito”, de ideias quanto a naturalidade de não ser igual aos outros.
Ela canta sobre inseguranças, trazendo sua vulnerabilidade para o primeiro plano ao som de seu poderoso contralto, que faz questão de soprar uma carga muito humanizada em cada acorde. Diferente de divas plastificadas de outrora, muitas vezes tão artificiais, é seu lado mais humano que a conecta aos ouvintes, em sintonia com aquilo que novas gerações esperam de seus ídolos.
Em uma estreia com cara de veterana, Amber Mark faz por merecer ocupar o mesmo espaço de nomes como H.E.R., Lianne La Havas ou mesmo Alicia Keys – mulheres que nunca se constrangem na hora de cantar sobre suas fragilidades, e o fazem com enorme maestria. A audição de Three Dimensions Deep, um álbum relativamente longo para seu tempo, revela o quanto a cantora está preparada para conquistar multidões (em faixas como “Cosmic”), enquanto permanece favorita no meio alternativo. É o melhor de dois mundos, é o que empolga em 2022.
(Three Dimensions Deep em uma faixa: “Foreign Things”)