Resenhas

Angel Olsen – Big Time

De uma beleza dolorida, sexto álbum da artista americana é profundo, cheio de significados e mais uma demonstração de frescor criativo pelas intersecções entre folk, country e indie

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Ano: 2022
Selo: Jagjaguwar
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Folk
Duração: 46'
Produção: Angel Olsen e Jonathan Wilson

Big Time estabelece desde a primeira faixa um clima nostálgico, uma saudade de uma época que Angel Olsen, aos seus 34 anos, viveu só na memória dos outros. É um período que nós nem sabemos nomear como dessa ou daquela década, mas é o tipo de música que já era vintage quando tocava em alguma estação de rádio daquelas que se escuta no carro, ou na sala de espera. É meio country, um tanto folk (como o de seus trabalhos anteriores) e inegavelmente com toques de um indie autoral que sempre se deu liberdade de quebrar os limites temporais e unir estéticas e gerações de hoje com as de ontem. Desde a referência em seu título, é uma obra que se permite observar, reagir e até repensar o tempo.

“All the Good Times”, a já mencionada música de abertura, traz um eu-lírico destemido, que termina um relacionamento de cabeça erguida por estar pronto para o que pode vir pela frente. Mas não é uma narrativa que desdenha o que foi vivido, e, sim, que entende o valor do que passou e também que agora todos os verbos estão no pretérito. É hora de algo novo, e a grandiosidade da música, aos moldes de grandes canções românticas de outrora, dão o tom de um possível final feliz para o disco que ali começa. Quem conhece a história por trás da obra, no entanto, não se surpreende com o tom pesado que o repertório ganha faixa após faixa depois dessa.

Angel Olsen passou por um processo de redescoberta de si mesma e de sua sexualidade e, aos 34 anos, se percebeu livre para ser quem é (em suas palavras). Ao compartilhar com a família sobre sua identidade LGBTQIA+, a cantora estadunidense viveu a felicidade de sentir-se renovada para um novo capítulo (assim como na música). Isso durou três dias, até acontecer o falecimento de seu pai. Pouco tempo depois, sua mãe também se foi. E a perspectiva de uma nova vida mais leve deu lugar ao luto e a um mundo no qual seus pais não se encontram mais.

O disco, é claro, reflete a dor da perda. À medida com que o repertório progride, a obra fica cada vez mais densa com a voz ecoada da cantora e ambientações escuras, frias, talvez até amargas em um momento ou outro. Ao chegar às duas últimas faixas, “Through the Fires” e “Chasing the Sun”, o peso da falta e de sua consequente saudade é sentido em cada acorde e cada espaço entre as palavras. De uma beleza dolorida, Big Time se encerra distante da dica de final feliz que havia na primeira faixa, mas justificando seu espírito nostálgico.

Além de resgatar uma época de grande valor afetivo, quando escutava músicas antigas – talvez na companhia de seus pais –, Angel se aproveita da grandiosidade dramática dessa estética romântica para expressar o tamanho de seus sentimentos. Diferente das canções que escutávamos no rádio, no entanto, não há aqui qualquer sensação de ingenuidade ao chorar lágrimas simples ou romantizar paixões que já nasceram breves. Big Time aproveita-se da maturidade de uma artista que chegou muito bem ao sexto álbum e do frescor criativo de quem descobriu uma nova luz logo antes da escuridão. É profundo e cheio de significados, uma amostra honesta e sonoramente agradável do que é ter que reaprender a viver em meio a tudo o que se sente.

(Big Time em uma faixa: “Right Now”)

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ARTISTA: Angel Olsen

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.