Resenhas

Apollo Brown – Sincerely, Detroit

Com mais de 50 convidados, o disco duplo é um retrato sociológico triunfal da cidade mais importante do estado de Michigan

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Selo: Mello Music Group
# Faixas: 21
Estilos: Rap, Hip Hop
Duração: 79’
Produção: Apollo Brown

Apollo Brown é um produtor de Hip Hop na ativa desde anos 1990. Este Sincerely, Detroit é um álbum duplo, o vigésimo terceiro de sua carreira, e concretiza um esforço enciclopédico. Aqui, se reúnem mais de cinquenta convidados para formar um retrato sociológico da cidade mais importante do estado de Michigan. 

Sincerely, Detroit não apresenta nenhuma ruptura estética dentro do Hip Hop. Ao contrário, ele inspira-se na era de ouro do estilo para construir sua ambientação. A pegada sofisticada de produtores como J. Dilla também é uma forte referência. Há uma enorme coesão no quadro geral das faixas, em que timbres ásperos, samples melodiosos e ambientações urbanas fundem-se harmonicamente. 

É interessante notar como o trabalho não transparece nenhum tipo de nostalgia. Sincerely, Detroit mantém os olhos abertos para o presente, o que é uma meditação rara hoje em dia. Pelo que parece, o nível de ansiedade dos 2010 deslocou a música para duas vias temáticas possíveis: a saudade de tempos melhores e o sarcasmo distópico de um futuro impossível.

Detroit sempre um foi um berço fértil para a música. No entanto, as abstinências também trabalham a favor da curadoria aqui. A ausência de Eminem, por exemplo, também natural da cidade, denota um trabalho que não está preocupado com o mainstream, com a espetacularização do Rap, nem com um ego inflado dos performers. Aqui, mesmo em faixas mais emblemáticas como “Dominance”, a democratização fala alto, com muita gente da cena rimando no mesmo volume. Uma oportunidade equivalente para cada um dar o seu recado. 

Sincerely, Detroit possui o peso gravitacional de álbuns marcantes do Hip Hop recente. É possível enxergar aqui a mesma vontade de potência de um August Greene (2018), Black Messiah (2014) ou quem sabe até mesmo a de um To Pimp a Butterfly (2015). É preciso dar as devidas proporções: Sincerely, Detroit, um pouco mais do que estes exemplos, possui um propósito, um contexto e um escopo específico. Dentro do que se propõe a fazer, no entanto, é um triunfo grandioso.

(Sincerely, Detroit em uma música: “Dominance”)

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ARTISTA: Apollo Brown

Autor:

é músico e escreve sobre arte