Resenhas

Aretha Franklin – Lady Soul

Registro consolida a carreira da cantora com hits esmagadores que fizeram as vezes de coroar a artista como a Rainha do Soul

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Ano: 1968
Selo: Atlantic Records
# Faixas: 10
Estilos: Soul, R&B
Duração: 28'
Produção: Jerry Wexler

Em discografias dos maiores artistas de todos os tempos sempre há aquele lançamento específico que serve como divisor de águas. Aquele que eleva o patamar de seu autor a outro nível, que mostra ao mundo os primeiros sinais de que sua música, daquele momento especial em diante, provavelmente ecoará para sempre. São os casos de discos como Revolver (1966), dos Beatles, ou Talking Book (1972), de Stevie Wonder. E Lady Soul (1968) foi o responsável por cravar de vez o nome de Aretha Franklin na história. Para muitos, seu primeiro clássico e o melhor disco de sua carreira. 

Mas isso não quer dizer que, à época, Aretha fosse uma novata: sua trajetória havia começado quase dez anos antes e Lady Soul já era o terceiro disco pela Atlantic Records, após os anos inicias amarrados às lógicas de mercado da Columbia. Além disso, ela ainda colhia os frutos do maravilhoso I Never Loved A Man The Way I Love You (1968), cujo carro-chefe, “Respect”, tornou-se um hit (e um clássico) imediato. Já havia consideráveis expectativas pairando sobre Lady Soul, que superou todas elas.

Terceira parceria com o produtor Jerry Wexler – um dos responsáveis por bancar o Soul de Aretha em detrimento do Pop sugerido no início do contrato com a Atlantic –, o disco une impecavelmente todas as habilidades que credenciaram Aretha como a Rainha do Soul. Seu alcance vocal único, a entrega carismática, os timbres que variam entre a explosão e a ternura e aliança entre as raízes do Gospel, o suíngue do R&B e o apelo Pop. E de quebra, hits. 

Acompanhada do Muscle Shoals Sound Rhytyhm Secion, um dos grupos de músicos de estúdio mais quentes dos anos 1960, Aretha chega com os pés na porta logo de cara: “Chains Of Fools”, composta por Don Covay, mostra riffs de guitarra cheios de Blues e a voz potente cantando sobre as tolices que cometemos por amor. Foi direto para o 2º lugar do Hot 100, da Billboard. Se o hit estrondoso, entre outros feitos, prenunciava o Hard Rock dos anos 1970, “(Sweet Sweet Baby) Since You’ve Been Gone” aponta os caminhos Pop dentro do R&B, caminhos pelos quais Michael Jackson trilharia mais de uma década depois. 

Mas Aretha olha para frente e para trás. Ela presta tributo a seus pares contemporâneos, com uma releitura desacelerada, gospelizada e maravilhosa de “People Get Ready”, de Curtis Mayfield, e faz uma versão enérgica de “Come Back Baby”, de Ray Charles. Em “Good To Me As I Am To You”, temos o talento de um jovem chamado Eric Clapton na guitarra e Aretha, mais uma vez, mostrando porque influenciou tantos vocalistas do Rock. As alianças entre o Jazz e o universo Pop se destacam também em “Groovin’”, interpretação suave e revigorante de um sucesso do grupo The Young Rascals, lançado em 1967. 

E o que dizer de “(You Make Me Feel Like) a Natural Woman”? Composta por Carole King e Gerry Goffin especialmente para Aretha cantar, a canção se tornou uma das performances vocais definitivas da história da música Pop, além de uma afirmação da liberdade da mulher – que é livre e também pode amar. É emocionante, arrebatadora e qualquer outro elogio caloroso pode entrar no balaio com justiça. Em 2015, Aretha levou Obama e provavelmente o Kennedy Center Honors inteiro às lágrimas cantando a música em um seu registro ao vivo mais incrível dessa década – e uma das apresentações ao vivo mais fantásticas que você vai encontrar no YouTube. O repertório de Lady Soul ainda fecha com a romântica “Ain’t No Way”, parceria com a irmã Carolyn, e mais um êxito comercial do projeto. 

Um pacote completo de Aretha Franklin – é como podemos definir esse disco. A partir de Lady Soul, Aretha sentou no trono de Rainha do Soul para sempre. E, dali em diante, sua voz já não era dela, mas pertencia ao mundo. 

(Lady Soul em uma música: “(You Make Me Feel Like) a Natural Woman”)

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MARCADORES: R&B, Soul