Resenhas

Arooj Aftab – Vulture Prince

Em seu terceiro álbum, artista paquistanesa combina erudição e música popular e nos arrebata com beleza e sensibilidade

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Ano: 2021
Selo: New Amsterdam
# Faixas: 7
Estilos: Folk, New Age
Duração: 46'
Produção: Arooj Aftab

De vez em quando, nos deparamos com uma obra que nos faz pensar nos antigos gregos, aqueles cujas ideias ecoam até hoje, que debatiam sobre a busca pela beleza e a aesthesis – ou seja, a experiência estética na qual os nossos sentidos, incumbidos da missão diária de nos fazer perceber o mundo físico ao nosso redor, nos comunicam que são insuficientes para dar conta do belo. Vulture Prince é o frio na barriga, o arrepiar dos pelos do braço e a lágrima que vem aos olhos para te lembrar o que é a sensibilidade diante de uma obra de arte.

Em seu terceiro álbum, a paquistanesa Arooj Aftab combina a erudição de sua formação musical com uma sonoridade que habita o local afetivo da Música Popular. Não apenas a de seu país natal, ou de qualquer outra região específica, mas a canção acompanhada de violão presente ao redor do mundo em manifestações artísticas do povo (“folk”, em inglês). O disco esculpe sua sonoridade ao trazer esse e outros timbres que conhecemos bem (como harpa e piano) adornados por discretos sintetizadores que situam sua obra nos dias de hoje, tudo com grande originalidade.

Na função também de produtora, Arooj traz um caráter exploratório para cada faixa, como se os elementos fossem organizados aos poucos, encontrando seus lugares enquanto abraçam o silêncio. Essas elipses ajudam também a construir ares misteriosos nas músicas que nos fazem querer decifrá-las, e têm também sua parte nos arrepios. É assim, por exemplo, ao longo de “Diya Hai” (com participação da brasileira Badi Assad) e em “Last Night”, única faixa em inglês no repertório e, não por acaso, a responsável por levar o álbum a mais pessoas.

Fica difícil para o ouvido ocidental não encontrar alguma espécie de exotismo nessas músicas, embora a tonalidade, os timbres e mesmo o ritmo sejam em sua maioria bastante familiares, talvez até “globais” hoje em dia. Até por isso as reações emocionais a Vulture Prince sejam tão “universais”, provocando experiências estéticas baseadas não só pelo quanto o formato de canção é compartilhado entre pessoas de tantas culturas, mas porque é uma obra que trabalha a sensibilidade sempre em primeiro plano. Para além do conteúdo sonoro, impressiona também o fator humano do disco.

Dedicado ao irmão falecido durante sua produção, Vulture Prince foi feito sob o conceito de falar de lugares que não existem mais – não apenas locais físicos, mas relacionamentos que hoje são apenas lembranças, ou as memórias de outras fases e de pessoas que não fazem mais parte das nossas vidas. Mesmo sem entender o que está sendo cantado, é fácil notar que é um álbum construído em cima de muita sensibilidade e que, com isso, provoca respostas imediatas, sinceras e extasiadas de seus ouvintes.

(Vulture Prince em uma faixa: “Inayaat”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.