Resenhas

Ash – Kablammo!

Sétimo disco da banda irlandesa reedita guitarras altas e melodias doces

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Ano: 2015
Selo: Ear Music
# Faixas: 12
Estilos: Power Pop, Rock Alternativo, Punk Pop
Duração: 39:58
Nota: 4.0
Produção: Claudius Mittendorf

Espero que vivamos num mundo onde haja gente capaz de ficar feliz por um disco como Kablammo! chegar às lojas/internet/tocador/streaming das pessoas. É o primeiro álbum que Ash lança desde 2007, mas o trio composto por Tim Wheeler, Mark Hamilton e Rick McMurray nunca saiu completamente de cena. Após anunciar que Twilight Of The Innoncents seria seu último álbum, Ash decidiu apostar na ideia de lançar singles pela Internet, sob o nome de The A-Z Singles, que resultou na produção de 26 canções ao longo do ano de 2009. Agora, de volta ao formato habitual, a banda também retorna à sonoridade que mais lhe é familiar: o Rock adolescente, feito para ouvir em altíssimo volume e com um baita sorriso no rosto.

Um mês antes do disco, a banda soltou o primeiríssimo single, Cocoon, típica canção “ashiana”, com dois minutos e meio de duração e cheia de muralhas de guitarras, erguidas em torno de uma frágil e bela melodia Pop perfeita, leve como a brisa. Esta capacidade de aliar artesanato autoral, arranjo barulhento e uma perene sensação de Verão musical, faz de bandas como Ash pequenos tesouros. Verdade que o grupo teve altos e baixos ao longo da carreira e lançou álbuns e canções insossas, mas é possível notar o quanto os tempos difícieis ficaram para trás e sentir palpável a felicidade do trio estar novamente em estúdio, lançando um disco de inéditas. A grande excelência dos rapazes como compositores chega logo na terceira canção do álbum, a bela Machinery, que nem é tão alegre assim. A linha melódica tem um teclado tristíssimo pontuando o refrão, enquanto Wheeler vai falando sobre saudade e ausência. Tudo aponta para aqueles pequenos clássicos Powerpop perdidos, devidamente revisitado/psicografado hoje.

Go! Fight! Win! é mais uma das “canções de luta” que Ash lança. Após o sucesso de Kung-Fu lá nos anos 1990, esta aqui não deixa por menos, com corais orientais de videogame e ataque frontal de bateria/guitarra com refrão infeccioso. Moon Dust é balada derramada, com Wheeler ao piano, mostrando amadurecimento total. Em muitos aspectos, Ash lembra bastante Weezer, principalmente no binômio nerdice/sensibilidade, e, com passar do tempo, também lapidou a capacidade de escrever belas canções mais lentas e climáticas. Hedonism tem porte clássico de canção Rock ganchuda e cheia de detalhes que te induzem a cantar junto, enquanto Dispatch tem guitarras suspeitas e vocais estranhos e soluções melódicas interessantes. Shutdown é punky, rapidinha, brejeira e harmoniosa, com marca registradas de grandes pequenas canções.

As duas faixas finais de Kablammo! são emblemáticas. For Eternity é outra balada lenta e dolorida ao piano com arranjo de cordas e clima de entardecer à medida que a pessoa amada se vai na direção contrária. Bring Back The Summer, introduzida pelo baticum de uma intencionalmente datada bateria eletrônica, investe na conexão californiana/ramoniana do trio, refletindo sobre a poderosa metáfora do Verão como momento ideal para extravasar as emoções e ver a vida tornando-se mais feliz pro coração e emoções em geral.

Ash está de volta e já tem confirmadas apresentações em Edimburgo, Manchester, Dublin e Belfast, durante os festivais das férias de verão no lado de cima do planeta. Wheeler e seus amigos subirão aos palcos com um bom álbum para divulgar e a já habitual coleção de hits do passado para saciar a saudade dos fãs. Maravilha.

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BOM PARA QUEM OUVE: Teenage Fanclub, Weezer, Supergrass
ARTISTA: Ash

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.