Resenhas

August Greene – August Greene

Supergrupo de Rap entrega álbum interessante

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Ano: 2018
Selo: Amazon
# Faixas: 11
Estilos: Rap, Rap Alternativo
Duração: 50:15
Nota: 3.5
Produção: Karriem Riggins

Temos um supergrupo de Rap: Common nos vocais; Robert Glasper no piano e Karriem Riggins na bateria e produção. Sob o nome August Greene, os três lançam um disco homônimo através do selo Amazon, pertencente à cadeia de lojas online. É um tempo apropriado para que três artistas afro-americanos juntem forças para falar do cotidiano nos Estados Unidos sob Trump e colocar em dia as nuances e belezuras que norteiam a fusão de Rap com Jazz, Funk e outros estilos em alta. Ao longo das 11 faixas, entre elas uma vinheta com menos de um minuto de duração, Common coloca a boca no trombone para falar de violência, segregação e redenção, tendo suas falas emolduradas por Glasper e Riggins, sempre com elegância e propriedade.

August Greeene, o álbum, tem boas canções em meio ao ato político e midiático de seu lançamento. É desses trabalhos que poderia sobreviver mesmo que não tivesse tantos acertos quanto tem. É uma peça de música urbana contemporânea, composta com talento e malandragem na medida certa. O trio tem faixa etária média de 40 e poucos anos, ou seja, seus componentes estão num outro momento de vida e fazem um som relativamente diferente da geração atual do estilo, o que é bom. Há mais calma e mais atenção ao som, Glasper e Riggins se permitem ousar enquanto músicos, sempre pendendo para o território do Jazz, com fraseados elegantes e batidas nervosas, que dão uma aura orgânica às canções.

Não se trata de um disco político por conteúdo, ou, melhor dizendo, seu discurso não está distante do que é dito sobre a questão do negro nos Estados Unidos. Canções como Meditation e Black Kennedy tratam da violência disfarçada pela mídia e das lembranças de governantes mais justos ao longo do tempo, ainda que o presidente John Kennedy tenha constituído em importante liderança continental contra revoluções e governos populares, inclusive o do presidente João Goulart, deposto em 1964, já por seu sucessor, Lyndon Johnson. Tal detalhe não atrapalha a percepção das nuances discursivas da música, uma vez que estes governantes foram receptivos às questões dos direitos civis dos negros, o que importa para os autores aqui.

Ainda que haja conteúdo importante para ser dito, o que me atraiu no álbum foi o capricho musical. Ele poderia ser um trabalho quase instrumental e ainda guardar muitos detalhes legais. Por exemplo, o andamento Pop de Practice, que traz a participação de Samora Pinderhughes no refrão melodioso ou na regravação muito bem sacada de Optmistic, sucesso noventista do grupo Sounds Of Blackness, com participação da sumida cantora Brandy. O fecho com os 12 minutos de improvisação sonora de Swisha Suite mostra nuances e possibilidades legais, chegando a lembrar os volumes Jazzmatazz, lançados pelo finado rapper Guru nos anos 1990.

Com autoridade, determinação e prestígio, August Greene é entidade musical a ganhar os palcos – na verdade, enquanto escrevo, a banda está se apresentando no Festival SXSW e, provavelmente, ganhando corações e mentes por lá – e dar as caras ao mundo. Necessário e bem feito.

*(August Greene em uma música: Practice)

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BOM PARA QUEM OUVE: Public Enemy, Kendrick Lamar, The Roots
ARTISTA: August Greene
MARCADORES: Rap, Rap Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.