Resenhas

Bachelor – Doomin’ Sun

Com sutilezas cativantes, álbum colaborativo soa como o encontro entre Ellen Kempner e Melina Duterte: honesto e destemido

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Ano: 2021
Selo: Lucky Number
# Faixas: 10
Estilos: Indie Rock, Alt Rock, Dreampop
Duração: 33'
Produção: Ellen Kempner e Melina Duterte

Unindo talentos e esforços, o duo Bachelor, formado pelas compositoras e produtoras Ellen Kempner (Palehound) e Melina Duterte (Jay Som), encontrou equilíbrio ao longo de 10 faixas inéditas. O álbum Doomin’ Sun foi criado durante duas semanas de imersão em um estúdio improvisado em uma casa no Airbnb – elas escolheram o local por causa do piano. Cercadas de natureza, as artistas se dividiram entre instrumentos e funções para compor as novas músicas do trabalho que também conta com colaboração de Buck Meek e James Krivchenia, do Big Thief, e Annie Truscott, do Chastity Belt e parceira de Duterte no Routine.

Antes de mais nada, Bachelor é um projeto que celebra a amizade entre Kempner e Duterte. O embrião surgiu após uma jam session das duas em 2018, que mantiveram contato até conseguirem se isolar em janeiro de 2020. “Foi tudo bem gay. Nos conectamos porque temos a mesma idade e somos queer. Não tinha conhecido ninguém como ela até então”, lembra Kempner em entrevista à Pitchfork.

O nome do projeto vem do reality show Bachelor, em um rapaz hétero busca uma companheira. Há décadas no ar, o programa de televisão também tem a sua parcela de participantes que assumiram a sua homossexualidade nos últimos tempos. “Nunca superei que meus amigos mais gays são obcecados por esse programa. Você tem a imagem de um cara com um buquê de rosas, e achamos que essa seria a imagem completamente oposta de quem somos”, explicou Kempner.

Doomin’ Sun fala sobre amores não correspondidos, e a ansiedade em se relacionar com garotas. Logo no início do disco, em “Back of My Hand”, as narradoras cantam sobre a opressão da cultura da beleza e das celebridades. Em meio a dietas, corpos inatingíveis, e calças tamanho 36, ela se questiona: “I’m your biggest fan/ Number one ‘til the end/ Do I wanna be you or be your friend?” (Sou sua maior fã/ Número um até o final/ Quero ser você ou ser sua amiga?).

O álbum soa como o encontro de suas criadoras: honesto, melancólico e destemido. No trabalho, invocam a energia de outras duplas famosas, como o som do The Breeders, ou a identidade queer de Tegan e Sara, e somam referências de grupos como Mazzy Star e Slowdive. Esta mistura ganha vida própria nas mãos de Kempner e Duterte, que com sutilezas e detalhes, produziram um registro que soa original e espontâneo, como a condição em que foi gestado.

Em faixas como “Anything At All”, o primeiro single, é possível perceber exatamente o que veio de cada projeto, o baixo de Jay Som, o vocal e a guitarra de Palehound. Entretanto, ao se unirem, conseguiram criar uma nova alternativa para os ouvintes, que já acompanham as suas respectivas carreiras. Em “Stay In The Car”, a mais alta do disco, elas buscaram referências nas décadas passadas, em especial no Pixies, para narrar uma cena cotidiana.

Nas redes sociais, Kempner escreveu sobre o contexto da letra: “Estava parada em um estacionamento, quando um grande carro parou e uma mulher absolutamente linda saiu. Ela estava gritando com o homem atrás do volante, perguntando o que ele queria da loja, e eu desejei ser aquele homem. Queria fazer parte da vida dela, ser sua melhor amiga, motorista, o que ela quisesse”.

Entre ser observadora e participante ativa, a narradora flutua entre vulnerabilidade e escapismo, ao longo de músicas que chegam a soar como um Shoegaze banhado pelo sol da Califórnia. São canções honestas sobre tentar encontrar o seu lugar no mundo, pensar sobre o dia a dia e desejar coisas ou pessoas inatingíveis.

O instrumental desacelerado garante a atmosfera etérea em faixas como “Sand Angel”, “Moon”e “Spin Out”.  Já em músicas como “Sick of Spiraling”, fica claro a tese do projeto, Bachelor fala sobre as sombras e as alegrias da vida, assim como o sol e a lua, os contrapontos também fazem parte da natureza humana. “I thought, If I can’t have my own back/ How the fuck can I have yours? / You are a braving light in a world so dark”. (Pensei, se não consigo nem me proteger / Como posso fazer isso por você?/ Você é uma luz corajosa em um mundo tão escuro).

(Doomin’ Sun em uma faixa “Sick of Spiraling”)

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ARTISTA: Bachelor

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