Resenhas

BADBADNOTGOOD – Mid Spiral

Em uma compilação que aglutina três EPs lançados neste ano, a banda canadense evidencia sua versatilidade ao manusear possibilidades do jazz

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Ano: 2024
Selo: XL Recordings
# Faixas: 18
Estilos: Jazz
Duração: 79'
Produção: BBNG

O BADBADNOTGOOD tem se consolidado como um dos nomes mais interessantes no campo do jazz recente, principalmente pela forma como mistura o hip-hop, a música eletrônica e outras influências ao gênero. Tanto que não apenas chamou a atenção de um sempre crescente grupo de fãs, como de grandes nomes do rap como Ghostface Killah e Kendrick Lamar, com quem já trabalharam no passado. Há poucas “regras” que definem como o grupo canadense pode soar – mas inovar e testar novos caminhos parece ser uma das diretrizes. Em Talk Memory, de 2021, a banda experimentou com as possibilidades psicodélicas do jazz, investindo em texturas e sonoridades lisérgicas, escoradas em instrumentação luxuosa (inclusive, com colaboração de Arthur Verocai).

O novo e ambicioso registro da banda, Mid Spiral, foi lançado originalmente como uma trilogia de EPs (Chaos, Order e Growth, revelados ao longo de três semanas) e, posteriormente, compilado num só – com direito a uma faixa bônus em sua última parte. Esses EPs foram concebidos em intensivas sessões de gravação num estúdio de Los Angeles, onde o grupo chamou um time de convidados para colaborar – Felix Fox-Pappas, Kaelin Murphy, Juan Carlos Medrano e Tyler Lott., só para citar alguns). O principal tema por trás desses lançamentos é capturar os diferentes estados emocionais e artísticos pelos quais a banda passou nos últimos anos, refletindo a complexidade que é transformar os estímulos do mundo em música.

A primeira parte, Chaos, é uma experiência sonora que parece diretamente conectada a Talk Memory, como se o grupo seguisse do ponto onde parou em 2021. BBNG se aprofunda em jazz funk e jazz rock por meio de uma musicalidade rica e detalhada, com timbres cuidadosamente selecionados em uma proposta que soa harmoniosamente caótica – como ouvimos em “Take Me With You”, com suas linhas tortas de guitarra que se unem a uma bateria reta e cirurgicamente groovada. “Weird And Wonderful” é outra que se destaca pela dissonância de alguns elementos melódicos, enquanto a parte rítmica mantém a sensação de progressão. Já “Last Laugh” vai para um lado mais roqueiro e ruidoso, com um baixo pulsante e uma percussão cheia de floreios.

Order traz uma nova perspectiva à sonoridade do grupo. Como se fosse colocar ordem na bagunça proposta no primeiro EP, a segunda parte suaviza alguns elementos mais experimentais enquanto propõe estruturas, digamos, mais rígidas, além de abarcar a influência de estilos como jazz latino e post-bop. Mas não se engane: apesar desse refletir uma abordagem mais madura e introspectiva – talvez até mais refinada em alguns aspectos –, o grupo não perde sua leveza e bom humor (como em “Taco Taco”, que soa quase como uma brincadeira com ritmos latinos). Faixas como “Juan’s World” e “Sétima Regra” brincam com essa latinidade, por horas esbarrando no samba e em ritmos brasileiros.

A terceira e derradeira parte da trilogia, Growth, encapsula o amadurecimento sonoro da banda e, de certa forma, é como uma síntese dos capítulos anteriores. “First Love” e “Audacia” inauguram a jornada num misto riquíssimo de jazz e funk, com acompanhamento de um naipe de metais e a volta do destaque para a percussão. “Celestial Hands” e “Ways of Seeing” trazem uma abordagem mais etérea e acolhedora, enquanto “White Light” é uma das mais belas baladas já produzidas pela banda. A delicadeza com que o BADBADNOTGOOD encerra a jornada de Mid Spiral indica uma paz após todos os caóticos estágios da criação. A merecida calmaria depois da tempestade.

(Mid Spiral em uma faixa: “Your Soul & Mine”)

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ARTISTA: BadBadNotGood

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts