Resenhas

Bartees Strange – Farm to Table

Músico britânico manuseia o experimentalismo a favor do pop e amplia universo de possibilidades em segundo disco

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Ano: 2022
Selo: 4AD
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Rock Alternativo, Folk
Duração: 34'
Produção: Bartees Strange, Chris Connors e Dave Cerminara

Dizer que você nunca ouviu algo como Bartees Strange é apelar para um discurso sensacionalista, meio click bait e nada eficiente para definir sua música. Por outro lado, falar que Farm to Table é completamente diferente do que você poderia esperar do álbum parece justo. E sinto que, mesmo se os próximos parágrafos descreverem exatamente o que é esta obra, no fim das contas, ainda haverá espaço para surpresas em sua audição. Mas, vamos lá.

Para quem não conhece: Bartees Cox Jr. nasceu na Inglaterra e mudou-se para os EUA após morar em outros países. Filho de uma cantora de ópera e de um militar, sua vida sempre teve a música muito presente, seja com bandas na adolescência (sob influências de At the Drive-In e American Football, por exemplo). Com o tempo, começou a produzir tendo gente como Bloc Party e Robyn como referências. Por fim, seu trabalho autoral de hoje em dia quer dialogar com seus favoritos, como Bon Iver, Mitski, Frank Ocean e The National, mas sem perder de vista toda a trajetória de citações que o trouxeram até aqui.

Farm to Table é seu segundo álbum de estúdio, após Live Forever (2020), e segue a missão de explicar ao ouvinte que o “Strange” no nome não é à toa. Suas 10 faixas (entre nove canções propriamente ditas e outra curtinha, com cara de vinheta) desenvolvem uma musicalidade tão atenta às possibilidades criativas quanto livre para explorar, resgatar e inventar composições, arranjos e harmonias. Às vezes tem cara experimental e, em outras, parece algo do mais pop possível – Bartees vai de Nine Inch Nails a Maroon 5 em poucos segundos. É sério.

O repertório apresenta, de primeira, faixas com grande potência sonora, que lembram desde explosões para grandes estádios e festivais à la Mumford and Sons ou The Killers (“Heavy Heart” e “Mulholland Drive”, respectivamente) até canções de estrutura pop e arranjos grandiosos que uma Imagine Dragons da vida adoraria ter entre seus hits (“Wretched”). “Cosigns” flerta com um lugar mais sombrio em sua ambientação e dá lugar a duas baladas de cunho folk ou folk rock (“Tours” e “Hold the Line”). “Escape the Circus” começa Kurt Vile e termina Jack White, para então “Black Gold” ser mais Bon Iver do que Justin Vernon poderia imaginar.

Entre tantas esquinas sonoras, Farm to Table sabe manter-se coeso em três frentes. Uma delas é a voz de Bartees – carismática, com uma potência interessante e bastante versátil para acompanhar suas andanças estéticas. A segunda é como ele usa esse vocal a favor de letras sempre muito honestas, seja ao tratar questões existenciais, problemas familiares ou mesmo para citar outros músicos de sua “panelinha”, como Phoebe Bridgers e Lucy Dacus, em narrativas que nos fazem sorrir (“Cosigns”).

Por último, há uma constante qualidade que atravessa as 10 faixas de Farm to Table. Quando ele é aquele indiezão-meio-Lollapalooza, está entre os melhores que você já ouviu. Quando decide ser intimista, é digno de toda nossa atenção para notarmos cada detalhe das faixas. Em meio a tantas confusões que ele pode gerar no ouvinte (e/ou no crítico), parece que Bartees Strange quer argumentar que nenhuma classificação em seu trabalho importa, se a música é excelente. E me convenceu.

(Farm to Table em uma faixa: “Wretched”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.