Resenhas

Bartees Strange – Horror

Em terceiro disco, músico vai do funk dançante ao folk etéreo – e transforma caos em beleza

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Ano: 2025
Selo: 4AD
# Faixas: 12
Estilos: Indie Rock, Indie
Duração: 42'
Produção: Jack Antonoff, Yves Rothman e Lawrence Rothman

Ser um homem negro e queer vivendo nos Estados Unidos – especialmente num período governado por Donald Trump – é existir constantemente à sombra do terror. Para Bartees Strange, esse medo permanente não é uma simples metáfora: é uma realidade diária que atravessa sua arte. Em Horror, seu terceiro e mais recente disco, ele transforma esses horrores em matéria-prima criativa, abordando desde medos e dores cotidianas até violências estruturais impostas à sua identidade. São temas recorrentes em sua obra, porém mostrados aqui sob uma nova ótica: menos abrasiva e mais acessível – e, ainda assim, profundamente provocativa.

As letras do registro mergulham em questões de identidade, pertencimento e ansiedade, de forma que esses medos não sejam paralisantes, mas se tornem força para ação. Na dolorosa “17”, por exemplo, ele expõe um momento arrasador ao cantar “The first time that I felt impending doom / Was realising I’m too Black for the room”. Esse tipo de crueza se repete em outras canções, como “Wants Needs”, em que o músico parece dialogar diretamente com seu público, expondo o peso de ser artista e a pressão que o próprio público impõe sobre ele. São 12 canções que refinam o que há de mais característico em sua obra: letras confessionais aliadas a uma entrega vocal intensa e arranjos que sustentam a emoção em cada verso.

Musicalmente, Horror é um disco ainda mais caleidoscópico que seus, ficando no limiar da coerência. Mais uma vez, Bartees brinca com gêneros como quem reconhece que essas fronteiras são puramente artificiais: do folk etéreo de “Baltimore” ao funk dançante de “Hit It Quit It”, passando ainda pelas batidas eletrônicas e nostálgicas de “Lovers”, o disco constantemente recusa a previsibilidade. O ecletismo encontra equilíbrio graças à (ou apesar da) produção de Jack Antonoff, que acentua os momentos de grandiosidade sem apagar a essência crua e vulnerável das faixas. Antonoff, conhecido por seu trabalho com Taylor Swift e Lorde, consegue trazer seu toque plástico ao registro, porém sem eclipsar a autenticidade de Strange.

A máxima de que coragem não é a ausência do medo, mas sim o ato de enfrentá-lo, encontra em Horror uma tradução sonora muito poderosa. Ao longo de 12 faixas, Bartees Strange não foge dos fantasmas que o assombram — ele os encara de frente, expondo aos ouvintes suas feridas, dúvidas e inquietações sem jamais perder a firmeza. O disco é, acima de tudo, um exercício de bravura: transforma medo em música, dor em poesia e caos em beleza.

(Horror em uma faixa: “17”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts