Resenhas

Bat For Lashes – The Dream Of Delphi

Sexto disco de Natasha Khan é uma homenagem subjetiva, contemplativa e deslumbrante à maternidade

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Ano: 2024
Selo: Mercury KX
# Faixas: 11
Estilos: Ambient, Indie, Chamber Pop
Duração: 36'
Produção: Natasha Khan, Ben Christophers, TJ Allen

Há uma poética indecifrável na arte de Natasha Khan. A artista, cantora e multi-instrumentista inglesa carrega um olhar sensível e particular em relação às diferentes estéticas que mistura. Como Bat For Lashes, seus discos trazem quase sempre uma narrativa introspectiva e em consonância com performances e personagens – que ora transitam por entre realidades nostálgicas, como os sons noturnos dos anos 1980 (Lost Girls, de 2019); ora são verdadeiros mergulhos íntimos por versos que investigam a psique e os conflitos humanos (The Haunted Man, de 2013). Escutar discos produzidos por Natasha envolve diferentes emoções. Angústias e amores coexistem em paisagens sonoras verdadeiramente envolventes.

Em seu sexto disco de estúdio, ela continua com entrega total, e agora o foco está no processo de se tornar mãe. The Dream Of Delphi se escora em um imaginário investigativo-subjetivo, trazendo uma intensa carga emotiva sobre a gestação e o nascimento de Delphi. As 11 faixas emanam sonoridades pautadas na ambient music e experimentos mais minimalistas, com Natasha priorizando sons longos, reverberantes e que fisgam a atenção do ouvinte por meio de melodia e poesia. O sonho ganha ainda mais impacto pelos momentos contemplativos que beiram a new age dos anos 1990. Mesmo assim, o disco não soa clichê – pelo contrário.

A faixa-título abre as portas para a dimensão emocional, como em um sonho do qual você nunca se dá conta. Em uma mistura de acordes do jazz dos anos 1950 com sintetizadores etéreos, “Christmas Day” ergue paredes sonoras tão confortáveis quanto confusas. “The Midwives Have Left” é simples em sua execução, mas mostra uma minuciosa construção de ecos a serviço de uma melodia constante. “Breaking Up”, por sua vez, revisita os sintetizadores e saxofones clássicos dos anos 1980, quase como um intertexto com seu disco anterior. Já “Waking Up” brinca com sequenciadores analógicos, ao mesmo tempo em que realiza experimentos aos moldes da música concreta do fim dos anos 1970.

Um marco na carreira de Natasha Khan, The Dream Of Delphi tem uma abordagem introspectiva, mas que certamente trilha um caminho rumo à compreensão. A partir de harmonia, melodia e poesia, Bat For Lashes homenageia a maternidade de forma deslumbrante, abarcando a carga emocional, a beleza e a transformação.

(The Dream Of Delphi em uma faixa: “Christmas Day”)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique