Resenhas

Beach Bunny – Emotional Creature

Segundo disco da banda americana resgata a estética do pop rock dos anos 2000 para entregar canções cheias de energia e investigação sentimental

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Ano: 2022
Selo: Mom + Pop
# Faixas: 12
Estilos: Indie Rock, Pop Rock
Duração: 35'
Produção: Sean O'Keefe

Quando pensamos no rock e em todos os debates questionáveis sobre o gênero estar morto ou não, criamos quase sempre uma imagem mental do que é ser uma verdadeira banda de Rock – seja um punk dos anos 1970, o hard rock mais farofa da década seguinte ou, até mesmo, o grunge dos 1990. Seja qual for a imagem, quase sempre o pop rock é excluído destas representações. Por muito tempo, artistas como Miley Cyrus, Demi Lovato e Avril Lavigne jamais seriam consideradas pertencentes ao rock – um reflexo tanto do conservadorismo quanto do machismo que o rock inevitavelmente fomentou. Entretanto, 20 anos após o “auge” desse subgênero, vemos como o rock tem voltado ao gosto jovem em meio ao domínio do Hip Hop e da música eletrônica – em artistas como Olivia Rodrigo e Machine Gun Kelly e Pale Waves. É dentro deste universo, que enxerga o poderio pop do rock, que a banda Beach Bunny encontra a linguagem ideal para se expressar.

Em seu primeiro disco, Honeymoon (2020), a nostalgia e o sentimento ensolarado da juventude se encontram em um registro que, apesar de amador nas técnicas de gravação, já evidenciava uma semente muito rica e próspera. Tinha tudo que um disco adolescente poderia pedir: riffs simples, melodias chiclete e letras cativantes. O projeto mostrou que Beach Bunny era uma banda comprometida em produzir discos coerentes e intensos. Assim, a nostalgia não vem apenas como acessório estético, mas como escolha certeira que aproxima o ouvinte da banda. Não é apenas um rock para lembrar dos bons tempos, mas um rock que fala sobre esse tempo no presente. É neste terreno fértil que Beach Bunny lança seu segundo disco.

Emotional Creature já deixa claro em seu nome que a emoção é núcleo central das 12 composições. O aspecto amador do primeiro disco é totalmente descartado, dando espaço para um trabalho bem polido. Parte desta aura de “verão americano” é alcançada pela produção assinada por Sean O’Keefe – veterano do pop punk e Ppp rock. Durante as faixas, ouvimos uma banda mais madura, tanto do ponto de vista da produção musical como do âmbito pessoal, com letras ainda mais confessionais e que seguem as reflexões do trabalho anterior. O pop rock ainda domina a estética geral, unindo o peso das guitarras e baterias super comprimidas a frases vocais mais melódicas e menos agressivas.

Um toque pesado e melodramático circunda o disco logo na primeira faixa, com “Entropy” dando um tom de otimismo no refrão cativante (“Alguém vai conseguir me entender/ É o que eu sou, o que eu fui e o que eu quero ser”). “Oxygen” é aquele single certeiro: uma canção ágil e animada que pesca o ouvinte nos momentos mais libertadores. “Eventually” cumpre a tabela com sendo um dos momentos “tristinhos” do grupo – uma tristeza envelopada pela energia de hino adolescente para cantar esgoelando em um show. “Weeds” já entrega o jogo logo de cara na primeira parte da letra: uma canção sobre ansiedade nos melhores moldes Brvnks e Soccer Mommy. “Infinity Room” é um interlúdio que vale a pena ser destacado: um momento mais livre da estética roqueira, mostrando outros talentos da banda. Por fim, “Love Song” embebeda o ouvinte de amores, terminando o registro com uma frase e forte que se repete ao longo do trabalho: “Eventualmente, tudo vem à tona”.

Beach Bunny não procura possibilidades mirabolantes para seu pop rock, porque não precisa disso. O que poderia ser interpretado como uma “zona de conforto” se mostra como a linguagem ideal para transmitir uma grande energia. Emotional Creature é nostálgico na medida certa e utiliza sonoridades de um passado não tão distante para interpretar o presente.

(Emotional Creature em uma faixa: “Entropy”)

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ARTISTA: Beach Bunny

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique