Resenhas

Beach Fossils – Clash The Truth

Três anos que separam as duas obras, esta e a anterior, se mostram um período de amadurecimento para a banda, com escolhas mais assertivas e ponderadas

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Ano: 2013
Selo: Captured Tracks
# Faixas: 14
Estilos: Dream Pop, Surf Rock, Lo-Fi
Nota: 4.0

Se voltarmos três anos no tempo, lá em 2010, estaríamos novamente em meio ao olho do furacão da uma cena revivalista que atingia então seu ápice, mesmo que suas representes fossem ainda muito jovens. Digo isso pois observo que grande parte dos grupos que participaram da explosão do Dream Pop /Surf Rock Lo-fi estavam ainda em seus primeiros discos ou EPs. Wavves, Best Coast, The Drums, Real Estate e encabeçavam a lista de novos nomes deste movimento, mas ela não não estaria completa sem citar o então quarteto, Beach Fossils (o baixista John Peña deixou a banda em julho de 2012).

Naquela época, o grupo lançava seu primeiro álbum e já atingia seu lugar ao sol com harmonias pegajosas, guitarras suingadas e vocais borrados por muitos efeitos, em músicas que se destacavam do restante da cena por trazer construções melódicas acima da média. Em seu novo disco, Clash The Truth, a banda consegue se manter nos mesmos caminhos em que se lançou naquele trabalho, porém conquistando uma qualidade maior em gravação, arranjos e letras. A produção Lo-Fi, que era um dos grandes atrativos daquela cena, foi minimizada – reverberações extras e efeitos exagerados nos vocais foram repensados e são usados aqui de forma mais inteligente e madura.

Com músicas alegres que brincam com riffs distorcidos e às vezes agressivos, é bem provável que em algum momento do disco você se imagine em meio a uma praia se divertindo e bebendo com seus amigos, que eventualmente lhe contarão algumas historias confusas sobre seus passados, mas isso não irá arruinar a sua tarde dançante à beira-mar.

A responsabilidade de abrir a obra fica por conta da faixa que dá nome a mesma e faz isso já deixando claro o quanto estas mudanças aprimoraram o som da banda. Guitarras cruas criam um fundo em loop para então o baixo conduzir a canção juntamente à bateria. Enquanto a melodia se apresenta sólida, suas letras são erráticas e despejam palavras que se unem pelo contexto, estabelecendo desde este ponto um diálogo com o ouvinte, criando uma conversa cheia de incertezas e questionamentos.

Se, por um lado, as letras trazem essa carga tão grande de perguntas, a banda parece estar bem certa em seus arranjos e cria belas misturas usando o Dream Pop, em faixas como Sleep Apnea e Modern Holiday, Noise Pop, caso de Careless e Birthday, e New Wave, como em Taking Off e Burn You Down, com o já conhecido estilo que a fez famosa. Soma-se a isso uma boa percepção melódica e, voilá, temos os ingredientes perfeitos para uma ótima receita veraneia.

Ainda assim, há um problema em Clash The Truth. Mesmo que grande parte das quatorze faixas sejam muitos boas, ele peca por não apresentar nenhum hit – mesmo o single que havia sido apresentado em dezembro de 2012, Careless, não consegue cumprir este papel e deixa esse vazio. Isso não é um demérito, porém, em um mercado construído à base de hits, essa pode ser uma grande desvantagem e pode torná-lo menos marcante se comparada a um disco que não alcance o mesmo número de boas músicas, mas que possua pelo menos uma faixa mercadologicamente viável.

Os três anos que separam a estreia homônima de Clash The Truth se mostram um período de amadurecimento para a banda, que faz neste álbum escolhas mais assertivas e ponderadas acerca de produção e sonoridade em geral – o Lo-Fi ficando em segundo plano em relação às construções melódicas também foi um grande avanço para este disco.

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BOM PARA QUEM OUVE: Wild Nothing, Real Estate, Best Coast
ARTISTA: Beach Fossils
MARCADORES: Dream Pop, Lo-Fi, Surf Rock

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts