Resenhas

Beach House – Thank Your Lucky Stars

Belo e inesperado, disco surpresa do duo traz tons melancólicos semelhantes a “Bloom”

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Ano: 2015
Selo: Sub Pop
# Faixas: 9
Estilos: Dream Pop
Duração: 41:00
Nota: 4.0
Produção: Beach Hoise

Poucas bandas conseguem captar o imaginário do ouvinte como Beach House. Poderíamos reduzir a relação entre música e paisagens a partir do estilo sonoro do duo, o Dream Pop. No entanto, a sensibilidade musical e o zelo curador de Victoria Legrand e Alex Scally são muito mais do que uma estética genérica de um rótulo. É um estado de espírito apaixonado e realista de um mundo às vezes melancólico, às vezes emocionante e, sobretudo, íntimo.

Nunca passei por um disco do duo sem pensar no silêncio aterrador do seu término. Ao mesmo tempo, o eterno relaxamento e a calmaria ecoada em um reverb expansivo são os retratos desse silêncio que acompanha Beach House. Depression Cherry, disco que encerrara um hiato de mais de três anos, parecia a fruta amarga que comemos de forma inesperada – o alimento que nos faz aprender o que a vida tem de melhor e pior para nos oferecer.

O lindo trabalho, que tendeu para lados minimalistas carregados de tristeza, poderia muito bem encerrar o ano de forma magistral para o grupo. Poderia nos deixar ansiosos pela duração de um novo silêncio até que uma nova obra sonhadora batesse na nossa porta. Doce ilusão, pois Thank Your Lucky Stars chega de forma surpreendente em 2015 e nos mostra uma outra faceta da banda – semelhante instrumentalmente com o ótimo Bloom. Oníricas como estamos acostumados, suas nove faixas nos trazem a eterna dualidade entre tristeza e alívio do duo sob olhares estáticos.

A abertura Majorette, viagem pelo olhar de um expectador de malabaristas, nos leva aos movimentos constantes do malabares e nos fazer refletir sobre nós mesmos (“If there was nothing left to lose/Then you’d have something to prove”). É o eterno olhar de uma pessoa pela sua janela, como Roger Valença mencionou na resenha de Depression Cherry. Existe um sentido nessa observação reflexiva, tão importante nos tempos líquidos de Internet: quando olhamos pela última vez ao que está acontecendo ao nosso redor? All Your Yeahs tenta responder isso com o momento mais espiritual de todo o disco. Já The Traveler coloca Victoria como uma sonhadora acordada (“daydreamer”) que enxerga lentamente amenidades se desenvolverem, enquanto Somewhere Tonight estilhaça o coração em uma das composições mais bonitas da cantora.

Repleto de imagens construídas por atmosferas espaçadas e letras visuais (Candles in a row/Better blow them quick/Before they’re melting on the floor), a direção artítisica do grupo conduz ao sonho, à reflexão e a uma intimidade, por vezes, inexplorada. Elegy the Void é o instante mais esperado do disco e também o seu ato mais político – condizente com a discografia completa do grupo. O seu momento mais bonito é a explicação para a existência de um segundo lançamento em 2015: enquanto Depression Cherry nos pede para abraçar as tristezas, Thank Your Lucky Stars nos dá uma versão melancólica, mas esperançosa, das transformações que acontecem na nossa janela. Ambos são objetos complementares ao estado de espírito atual de Victoria e Alex.

Como espectadores entorpecidos em uma casa na praia da costa – meio abandonada no meio da areia -, percebemos que o disco pode ser considerado um retorno ao básico e, acima de tudo, uma grata surpresa aos fãs, que tem um 2015 iluminado. Mantém a sensação de instrospecção e intimidade idiossincrática do Beach House, além de seu próprio gênero. O silêncio, por fim, nos pede para aguadar o próximo belo reencontro, ansiosos por essa calma tão única.

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BOM PARA QUEM OUVE: Widowspeak, Air, Cocteau Twins
ARTISTA: Beach House
MARCADORES: Dream Pop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.