Se há algo que podemos louvar na empreitada de Liam Gallagher à frente de sua banda Beady Eye, é a atitude “fuck you, bastards” implícita em relação ao passado. Mesmo que Liam conserve no Beady Eye as presenças de Gem Archer e Andy Bell, presentes nas fileiras do Oasis desde 2000, a sonoridade que ele busca é diferente o bastante para que possamos entender seu projeto como “algo novo”. Justamente o rumo oposto tomado por seu irmão Noel, cuja carreira solo é totalmente calcada na antiga banda. Isso não é problema, uma vez que este segundo trabalho do Beady Eye mostra que Liam e os rapazes talvez fossem voto vencido em termos de arejar a sonoridade do Oasis, algo que Noel parecia controlar com mão de ferro.
O segundo disco do Beady Eye, BE, é legal o bastante para justificar o alarde que se faz em torno da banda. A produção ficou a cargo de David Sitek, o sujeito que pensa nas modernidades da música “relevante” americana, antenado, esperto, mentorizando sua própria banda, o TV On The Radio. Em BE, essa modernidade vertiginosa foi deixada de lado em benefício da sonoridade mais clássica de Liam e seus amigos, algo que ficou em bom tom. Sitek é esperto o suficiente para inserir sua pegada lá no meio do som, em sutis detalhes, mas que surpreendem o fã de longa data, acostumado com velhos trejeitos sonoros do Oasis. A formação do Beady Eye também está diferente e para melhor: Andy Bell, um semi-ícone do guitar rock do início dos anos 90, quando liderava o Ride, baixista no Oasis e no primeiro disco do Beady Eye, voltou à guitarra, algo que faz muita diferença, uma vez que Gem Archer também continua no manejo de suas seis cordas. Com dois guitarristas, o baixo foi assumido pelo ex-Kasabian, Jay Mehler, devidamente integrado no novo esquema.
Os dois primeiros singles do novo trabalho, Flick Of The Finger e Second Bite Of The Apple já apontam direções próprias. O início épico de Flick, com metais e guitarras marcantes, mostra influências sessentistas, algo que também acontece com Second Bite… mas é em momentos como Shine A Light, que a novidade aparece: um início climático, desemboca em ritmos quebrados de bateria que poderiam lembrar algo dos Stones dos anos 60, mas a produção de Sitek não deixa espaço para saudosismos, inferindo clima e ambiência que dão vida própria à música. A singela cançoneta Start Anew encerra o disco, em meio a violões e efeitos de cordas e teclados – também com influência da produção de Sitek – com clima bucólico e beatle, como não poderia deixar de ser.
O novo disco do Beady Eye é melhor que a primeira investida da banda, Different Gear, Still Speading (2011), mais conciso, mais ambicioso e capaz de fazer os fãs mais ferrenhos do Oasis esquecerem do passado por alguns bons minutos.