Resenhas

BEAK> – >>

Um dos membros do Portishead investe em Trip Hop mais dark com um clima cinematográfico

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Ano: 2012
Selo: Invada
# Faixas: 10
Estilos: Trip Hop
Duração: 47:50
Nota: 3.0

O BEAK> conta em sua formação com um dos membros do Portishead (Geoff Barrow), o que explica muito bem diversos aspectos do som do grupo e o que esperar desse segundo CD. O Portishead é um dos grandes divulgadores do Trip-Hop, ritmo marcado por batidas lentas e desaceleradas convencionais do Hip-Hop, mas com uma ambientação mais viajada, por isso o “Trip” (viagem) do nome. BEAK>, segue a mesma a linha, com uma base sonora muito semelhante à da outra banda, mas sem a voz extremamente feminina de Beth Gibbons. O grupo tem, entretanto, um vocal mais carregado e com um timbre à la Ian Curtis (Joy Division), que eleva ainda mais a ambientação dark e viajada do disco.

The Gaol inicia o álbum >> de forma perturbadora, com uma viagem em acordes crescentes e que emana uma ambientação futurista e tensa – uma música apropriada pra trilha de um filme de ficção. Yatton, menos pesada que a anterior, tem um baixo bem marcado no começo, à espera do riff simples e preciso de guitarra que conduzirá a música, dessa vez com o surgimento do vocal que, à primeira vista, parece estranho, mas que funciona muito bem com a proposta da banda. Spinning Top lembra muito mesmo a instrumentação do Portishead e o interessante é perceber como diferentes vocais trazem diferentes sentimentos à música. Nessa, se vê a tensão quase sufocante da voz, que chega a ser aflitiva, o que Beth Gibbons talvez fizesse igual, mas que com uma voz feminina soaria mais como um sopro do que a falta de ar nessa faixa. Uma música para ser escutada com o filme Blade Runner sendo visto na televisão, muda obviamente.

Eggdog é umas das melhores canções do disco, com um riff que não sai da minha cabeça de jeito nenhum, viajada e talvez confusa, é apropriada para as noites cheias de névoa em São Paulo. Vale ressaltar que, por mais bizarro que pareça, o CD é melhor aproveitado se escutado a noite, devido à sua ambientação e peso. Liar, só instrumental, é dividida em uma condução baixo/bateria e com ruídos de guitarra. Sente-se a pressão crescente dentro da música, quase que um interrogatório, para depois explodir, denunciando o mentiroso do grupo. Ladies’ Mille é etérea e com clima de suspense podendo tranquilamente estar na trilha sonora de algum filme do Kubrick, uma mistura de 2001, uma Odisséia no Espaço, com o começo de O Iluminado, “sensacional” e “impressionante” são adjetivos para a ambientação feita nessa música.

Wulfstan II, segue a linha de trilha sonora de ficção, com uma canção que te faz imaginar a descoberta de novos mundos a lá o Vingador do Futuro, com o talvez melhor conjunto da obra, vocal e banda funcionando perfeitamente. Elevator termina as referências cinematográficas com um fuga tensa de algo, meio Alien para depois conseguir chegar ao elevador e sobreviver, o que é representando por acordes mais calmos do meio pra frente da música. Deserters tem o vocal mais compreensível do CD, que intercala a confusão da sujeira das guitarras com a serenidade e simplicidade viajantes do baixo e bateria, quase uma balada dentro de tanto peso. Kidney carrega a melancolia no vocal do Joy Division e, lentamente, vai subindo os níveis, criando um clímax extremamente apropriado para essa obra dark e viajada, para depois finalmente o vocal conseguir gritar e espantar todos os seus demônios.

O segundo CD do BEAK> emana diversas emoções quando escutado e não vai deixar os fãs de Portishead na mão. O seu clima sombrio, pesado mas viajado não o torna apropriado para qualquer momento emocional ou temporal. Talvez vinculado a imagens, se torne mais tangível a mais pessoas, algo como acontece com as trilhas sonoras feitas recentemente por Trent Reznor e Atticus Ross (Millenium e Rede Social), ou se simplesmente for escutado no momento certo.

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BOM PARA QUEM OUVE: Trent Reznor, Joy Division, Alt-J
ARTISTA: BEAK>
MARCADORES: Trip-Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.