Resenhas

Beck – Colors

Músico solta grande disco Pop

Loading

Ano: 2017
Selo: EMI
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 39:40
Nota: 4.5
Produção: Beck e Greg Kurstin

Com o passar do tempo, Beck foi criando vários tipos de disco em sua carreira. Há aqueles álbuns introspectivos (Sea Change, de 2002, e Morning Phase, 2014), os “conceituais” (Mutations, 1999, e Guero, 2005), os que se tornaram clássicos com o tempo (Odelay, 1996, e Mellow Gold, 1994) e os mais interessantes, na opinião deste que vos escreve: os “Popíssimos”. Nesta prateleira, temos os ótimos Midnite Vultures (1999), The Information (2006), Modern Guilt (2008) e agora este ótimo Colors. É neste terreno que Beck se sai melhor, liberando sua criatividade latente para forjar e imaginar paisagens sonoras com o objetivo claro de carregar o ouvinte para uma dimensão de canções fáceis e memoráveis, porém jamais simplórias ou derivativas. É como se ele fosse uma espécie de Willy Wonka musical, com repertório, moods e intenções distintas. Quando quer soar Pop, meu/minha amigo/a, sai da frente.

Beck tem a manha de ser daquele tipo de artista que sempre soa contemporâneo. É tendência e gera tendência muito antes desse termo surgir como algo válido. Guardando muitas proporções, ele tem uma aura “bowieana” de “modernidade”, com um espectro bem menos amplo, talvez não intencional, mas válida e presente em álbuns como este Colors. Nas mãos de alguém com menos malandragem, estas mesmas canções soariam sem o brilho casual que Beck lhes confere aqui. Para muitos ele ainda é aquele artista “esquisito”, mas sabe criar melodias e buscar referências como poucos em atividade. Aqui a sua área de inspiração está no Pop oitentista, algo bem banal e corriqueiro nos dias de hoje. Nas suas mãos, nada soa óbvio, as influências são transformadas e camufladas sob tinturas e artesanato de estúdio, uma vez que ele assina a produção ao lado do já onipresente Greg Kurstin, talvez o produtor que mais trabalhou nesde ano. Juntos, eles discretamente dão novas roupagens para tudo o que se ouve aqui.

Colors parece “preguiçoso” nos seus primeiros minutos, correspondentes à execução da faixa-título. Nem é culpa da canção ou algo assim, é o tempo que precisamos para nos darmos conta do que estamos ouvindo. Não é nenhum Beck que não seja o artesão Pop que está presente. Esgotadas as expectativas por algo mirabolante, voltamos para reouvir a canção e nos damos conta de seu polimento perfeito, seu uso discreto da Eletrônica, sua batida dançante que soa orgânica o bastante e um jeitinho esquisito que só traz mais charme. A canção seguinte, Seventh Heaven, é, simplesmente, uma das maiores criações do artista neste terreno. Com levada elegantíssima, dançante no sentido Hall And Oates do termo, ela esbanja vitalidade e belezura. Quando nos damos conta, o disco já nos capturou de forma inapelável e o desfile de canções que se segue é correto, quase perfeito.

Temos I’m So Free com um Rap torto no meio e guitarras entrecortantes em meio à estrutura sacolejante, Dear Life, com um piano estiloso que a conduz gentilmente pelas mãos, enquanto Beck sai cantando e comandando o arranjo de ótimo gosto, e mesmo No Distraction com palmas sintetizadas que levam a melodia nos ombros e alguma aura de faixa que poderia ser de gente como The Police em algum momento de 1981/82. São surpresinhas coloridas que surgem naturalmente pelo percurso sonoro. A caminho do fim, mais itens memoráveis: a brejeirice assoviável de Square One, um pequeno colosso de maestria e a ambiência plácida de Fix Me, uma incursão do sujeito ao terreno das baladas pop, na qual ele não faz feio. Também ganham destaque as duas versões de Dreams. A primeira, batizada de Colors Mix, tem uma estrutura mais convencional para adornar a graça da canção – uma das primeiras a sair como single do álbum. A outra, apenas com o título da faixa, é maior e encerra o disco com classe.

Colors é digno de figurar na prateleira dos melhores trabalhos de Beck. Pode ser que muita gente não perceba seu verdadeiro brilho agora, que prefira algo mais “sério” ou “complexo” mas sua beleza colorida (sem trocadilho intencional, eu juro) se imporá com o passar do tempo. Mais um excelente trabalho de um cara essencial para a música planetária.

(Colors em uma música: Seventh Heaven)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Beastie Boys, LCD Soundsystem, Gorillaz
ARTISTA: Beck

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.