Resenhas

Being Dead – EELS

Entre os grandes lançamentos de rock alternativo no ano, segundo disco do duo americano é “meio coração, meio niilismo”

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Ano: 2025
Selo: Bayonet Records
# Faixas: 16
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 39'
Produção: John Congleton

EELS é como uma comédia dramática, aquele gênero de filmes e séries que consegue te fazer rir, às vezes fazendo piada de coisas sérias, mas também se aproveita da situação vulnerável do espectador/ouvinte às gargalhadas para “mandar a real” emocionalmente. Em seu segundo álbum, Being Dead segue com sua irreverência, agora também sem medo de abraçar, risonhamente, as sombras que lhe perseguem – é arte de tudo, até quando não parece ser.

Isso porque o disco é todo construído entre referências de cultura pop (a começar pela abertura com “Godzilla Rises”) e pequenos maneirismos musicais que adicionam leveza, quando não comicidade, às faixas (é o “pa pa pa pa” em “Firefighters” ou a quebra no refrão de “Big Bovine”, que faz com que a música pareça um jingle). A própria natureza nostálgica que é tão evidente em sua estética sugere alguma leveza, como a menção de tempos que quem é jovem hoje crê terem sido muito mais simples (a tal saudade do que não se viveu, porque ainda não era nascido).

As harmonias vocais do duo, tão essenciais ao seu som quanto as guitarras, faz com que Being Dead pareça uma espécie de “The Carpenters de garagem”, cantando “rock’n’roll hurts, baby, why don’t you rock out with me?” (em “Rock’n’Roll Hurts”) antes de cair na risada. Há também certo desespero velado em músicas como “Ballerina”, que versa com aparente ingenuidade sobre o prazer de dançar e, ao mesmo tempo, se dissociar da realidade.

O trabalho com o produtor John Congleton (que já esteve por trás de obras de St. Vincent, David Byrne e Sleater Kinney, entre muitos outros) garantiu que essas intenções fossem muito bem aproveitadas em ótimas músicas. É impressionante como EELS flui facilmente – talvez em um paralelo com o animal mencionado no título, a moreia, e seu nado que mais parece uma bandeira ao vento –, em faixas curtinhas, em sua maioria, e um pique de quem está cansado da vida, mas empolgado com a música.

O duo Being Dead trabalha como poucos a sensação de estar vivo em 2024 – o choque dos exageros do mundo de hoje e a vida digital são extravasados com o verniz da apatia e do tédio tão presentes no indie e no rock alternativo. É meio coração, meio niilista ao desenvolver a ironia de não se levar a sério mesmo quando a alma sangra, e você percebe que a crise existencial (dos outros) pode render certos divertimentos.

(EELS em uma faixa: “Firefighters”)

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ARTISTA: Being Dead

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.