Resenhas

Ben Folds Five – Live

Registro ao vivo veio como uma certificação de que a banda voltou entrosada e cheia de telepatia musical

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Ano: 2013
Selo: Legacy Recordings
# Faixas: 15
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo, Indie
Duração: 73:33
Nota: 3.5
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Flive%2Fid643041524%3

Uma das maiores revelações musicais que tive foi com Ben Folds Five. Eu estava num momento de caça aos títulos obscuros do Britpop, incluindo aí alguns singles do Oasis, o segundo disco do Blur – Modern Life Is Rubbish – e bandas coadjuvantes do movimento, como Cast e Bluetones. Para encontrar discos desses grupos, era necessário ir a uma loja de discos em Ipanema, Zona Sul do Rio, chamada Spider. Situada no segundo andar de uma galeria na Visconde de Pirajá, a pequena loja de discos era forte em Techno e Britpop, mas, de vez em quando, aparecia com algumas coisas que não se conectavam com nada. E foi lá, numa tarde qualquer do início de 1996 que eu ouvi Underground pela primeira vez. Minha reação foi perguntar “Meu Deus, o que é isso?” para o dono da loja e receber em troca a resposta: “é Ben Folds Five, conhece?”. Claro, claro que não conhecia.

Eram outros tempos, meus caros. Não havia Internet ou computadores em casa. Celulares engatinhavam e enfrentavam a filosófica questão se deveriam ser CDMA ou TDMA, enquanto os CDs ainda davam as cartas absolutos na preferência dos fãs de música. E foi com uma cópia do primeiro disco do Ben Folds Five que eu me atraquei por muito tempo. Ao contrário do nome da banda, eram apenas três caras: Ben Folds no piano, Darren Jessee na bateria e Robert Sledge no baixo. Sim, só esses sujeitos e sem qualquer guitarra por perto. Acompanhei a carreira dos caras de perto, vi eles se separarem amigavelmente em 1999 e Folds seguindo uma irregular carreira solo a partir daí. Foi com certa alegria que recebi a notícia de que a banda se reuniria em 2012, quando lançaram o simpático The Sound Of The Life Of The Mind. Agora, como prolongamento natural dessa reunião, lançam o primeiro disco ao vivo em quase vinte anos de carreira.

O resultado é pra lá de satisfatório, com o trio entrosado e cheio de telepatia musical, algo que corrobora que a separação amigavel não os isolou musicalmente. O repertório cobre toda a carreira do grupo e deixa de fora as canções compostas quando Folds estava solo. Canções do último trabalho dão as caras em boas versões, caso de Do It Anyway e One Chord Blues, mas é com as velhas cançonetas de “Punk Rock for sissies” (como os próprios costumavam definir seu som quando surgiram) que o disco se revela. Underground surge majestosa, assim como Brick (com toda a melancolia nerd possível), além de divertidas releituras para “Jackson Connery”, “Uncle Walter” e One Hungry Dwarf And 200 Solemn Faces. O piano aeróbico de Folds, a grande marca registrada da sonoridade da banda, mantém-se no foco, com a visibilidade de sempre, mantendo Jessee e Sledge como zeladores da liga de sustentação das harmonias pipocantes de Folds.

Se tivesse escolhido ainda mais pérolas dos dois primeiros discos e houvesse um pouco mais de energia nas performances, Live certamente levaria um cacho de bananas. Fica nas três bananas e meia, quase quatro.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.