Resenhas

Betina – Hotel Vülcânia

Segundo disco da compositora traz experiência psicodélica intensa e instigante

Ano: 2018
Selo: Tratore
# Faixas: 10
Estilos: Dream Pop, Psicodelia, Synthpop
Duração: 45:11
Nota: 3.5
Produção: Diogo Valentino

A grande popularidade da Psicodelia e suas novas formas de expressão no novo século vem acompanhado de uma equivocada noção que se institui entre as bandas: de que ela está necessariamente vinculada ao exagero, seja de efeitos de guitarra, lisergia ou de conceitos misteriosos e abstratos. Isto acaba gerando uma série de bandas que acabam pecando pelo excesso de estereótipos, indo contra o princípio do gênero de ir fundo dentro das próprias percepções e tentar expor ao público.

Felizmente, a cantora e compositora Betina compreende bem a importância da subjetividade em sua obra, tendo nos apresentado um eclético e curioso disco em 2016, intitulado Carne De Sereia. Agora, dois anos depois, ela põe ao mundo uma nova parcela de suas percepções, uma que aparenta trazer uma visão bem mais aprofundada e, portanto, mais psicodélica possível.

Hotel Vülcania trabalha com um elemento característico da obra de Betina: sua pluralidade. A Psicodelia aqui é entendida como um ponto em comum entre as diferentes composições, mas cada uma traz uma natureza específica que enriquece o trabalho como todo. Desde o Rock fritação, passando pelos mantras epifânico, e até mesmo com um Dream Pop, o repertório aqui é bem diverso e cada um deles ilustra uma percepção de Betina.

Ou seja, cada música traduz uma especificidade única e isso reflete na preciosidade com a qual são tratados seus pensamentos e questões. Além disso, Betina reconhece que seu universo é maior do que ela pode conter, por isso a parceria com outros músicos ganha um significado especial aqui, contando com artistas como Tatá Aeroplano, Heloiza Abdalla, Pedro Bonifrate e Boogarins.

Iniciando a transmissão em meio a colagens sonoras, Betina escolhe Anônima como faixa para começar o registro, suave em seus timbres, mas explosiva em arranjos amplos e reverberados. A faixa que dá título ao registro traz sonoridades malemolentes, abusando de timbres vintage como o Melotron e sintetizadores analógicos. Cal e Cinzas traz elementos de diferentes partes do mundo na composição mais caótica e surpreendente do disco e um dos pontos altos. A faixa que ganha o título de mais enervante é As Luzes Del Fuego, rasgando nossos ouvidos com seus reverbs tanto nas guitarras distorcidas como nos vocais. Por fim, Ruído Tropical traz em sua persistente batida uma cama para uma melodia hipnótica e cativante, nos deixando com uma vontade de escutar o trabalho de novo.

Seu segundo disco traz uma lição de como fazer um disco não apenas psicodélico, mas profundo e efetivo em nos trazer a percepção da Betina, uma que nem sempre será tão concreto, mas certamente fará o ouvinte ficar inquieto entre as texturas criadas. Um disco para mergulhar sem medo de ir fundo demais.

(Hotel Vülcânia em uma faixa Cal e Cinzas)

ARTISTA: Betina

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique