Resenhas

Bibio – A Mineral Love

Acessível, repleto de baladas e com estética nostálgica, trabalho pede para ser apreciado com calma

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Ano: 2016
Selo: Warp Records
# Faixas: 13
Estilos: Folk, Folk Eletrônico, Indie R&B
Duração: 45:00
Nota: 3.5
Produção: Bibio

Nunca se sabe qual será a nova sonoridade que Stephen Wilkinson buscará através de Bibio, seu prolixo e multidimensional projeto artístico. Ao longo dos últimos onze anos, tivemos oito discos lançados que exploraram desde sons ambiente de Brian Eno e Boards of Canada até o Folk experimental visto em seu último álbum, Silver Wilkinson. As suas origens Eletrônicas o fizeram consequentemente assinar com Warp Records, selo conhecido por artistas como Aphex Twin e Squarepusher, mas sua sonoridade nunca se limitou a gêneros.

A Mineral Love é de longe o seu trabalho mais agradável e usa-se da colagem usual do produtor para transportar o ouvinte para outras épocas. Não pode ser considerado um trabalho focado, até porque estamos falando de Bibio, mas a cadência serena da obra como um todo e sua estética nostálgica o fazem uma peça inteira e representativa do momento vivido por Stephen e outros nomes da música atual. A aura sensual de Feeling e Light Up The Sky o trazem perto de nomes que revisitaram baladas R&B à sua maneira, como Ariel Pink e Unknown Mortal Orchestra, por exemplo.

Sua faixa título poderia estar perdida em um programa de rádio dos anos 1960 junto à doce balada de gosto britânico Raxeira. Tal levada “easy going” é o fio condutor do disco e pode ser alcançada sob diferentes ópticas: inspirações brasileiras surgem no “sambinha” C’est La Vie e na Bossa Nova Saint Thomas (ambas curiosamente com nomes franceses), enquanto os anos 1980 aparecem nas canções “Alpha FM” Gasoline & Mirrors e Why So Serious. As participações de Wax Stag e Oliver St. Louis nesses momentos, respectivamente, trazem sentido à mudança sônica proposta. No entanto, a sensação de lobby de hotel passa por todas as faixas – veja bem, essa não é uma crítica, mas uma constatação de que a proposta nostálgica do disco foi bem acertada.

Apesar de tentar retratar outras épocas e divertir o ouvinte, A Mineral Love agrada mais em seus instantes mais íntimos, como Petals, Wren Tails e The Way You Talk, com Gotye, todos momentos escapistas que nos lembram o gosto pelas ambiências de Bibio. Faixas seguem por viagens instrumentais após o “seu término” e fazem com que diversas sequências se encaixem bem, como Gasoline & Mirrors seguida por Saint Thomas. Ao mesmo tempo, o House de With The Thought Of Us causa um certo estranhamento e disconeção com o resto da obra, sendo bastante descartável por justamente fugir de seu amplo escopo.

O disco chama atenção e soa ainda mais delicioso quando apreciado em um ambiente ensolarado e descompromissado, sendo verdadeiramente um trabalho com dedos de um gabaritado produtor. Seja no gosto análogico de fitas gravadas com oscilações de tonalidade ou no som abafado e baixinho que Stephen procura do começo ao fim do álbum, A Mineral Love pode não ser o momento mais inovador na carreira de Bibio, mas, com certeza, é o mais fácil e relaxante de sua carreira – o que pode ser exatamente o que você procura.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.