Resenhas

Big Bend – Radish

Natural de Ohio, Nathan Phillips tenta o impossível neste novo disco de seu projeto experimental Big Bend: capturar a passagem do tempo

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Ano: 2019
Selo: Ohie Records
# Faixas: 8
Estilos: Experimental, Art Pop
Duração: 30'
Nota: 3.5
Produção: Nathan Phillips, Aaron Roche

Nathan Phillips é o autor do projeto Big Bend, de música experimental, que acaba de lançar novo LP. Antes disso, com Huntched (2015) – seu álbum de estreia –, o artista brincava com timbres eletrônicos quebradiços, muito à maneira de Tim Hecker, evocando grandes estruturas metálicas em colapso. O sucessor Radish, no entanto, parte de uma série de colaborações com alguns músicos eruditos para gravar um disco atmosférico que tenta o impossível: capturar a passagem do tempo.

Trata-se de um disco em que a exploração está em foco. Ele foi feito em diversas etapas, com diferentes camadas de pesquisa sobrepostas, o que significa que a história por trás do LP é essencial para o entendimento do produto acabado. 

Tudo começou assim: enquanto trabalhava limpando o chão de um café, após o fim do expediente, Phillips colocava Arvo Pärt para tocar em uma estação da rádio Pandora. Sobre a sequência de músicas, o jovem improvisava melodias de voz ‒ um estilo bastante solto de cantar, aliás, inspirado em músicos como Lonnie Holley e Van Morrison. Assim, com as linhas vocais mais ou menos definidas, Phillips reuniu-se com alguns amigos no estúdio para compor as sessões que, posteriormente, viriam a se tornar as bases de Radish.     

Os ambientes construídos por ele são lindos. É como se estivessemos em uma paisagem escura e lamacenta. Neste álbum, as músicas parecem tocar dentro de uma caverna úmida, cheia de neblina, com gotas de água pingando das estalactites. As faixas, no entanto, oscilam entre diferentes qualidades experimentais. Em momentos, sobressai a sofisticação de um James Blake. Em outros, fica mais evidente a energia bruta de um Kiran Leonard. 

Letras como “When my dad was there, I felt the air / Right when I looked away / From the ladder of DNA” (“Quando meu pai estava lá, eu senti o ar / Logo que desviei o olhar / Da escada do DNA”), da faixa “1000 ways”, evidenciam o processo de pesquisa interno. Phillips olha para dentro na tentativa de desvendar os traços da herança familiar na personalidade do músico. Radish é, nesse sentido, uma inclinação por caminhos espirituais, quase religiosos. Um exercício de entendimento individual que passa por oito canções, e que explora o desvanecimento da memória por meio de uma composição fragmentada.

(Radish em uma música: 1000 Ways)

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ARTISTA: Big Bend
MARCADORES: Art Pop, Experimental

Autor:

é músico e escreve sobre arte