Resenhas

BIKE – Their Shamanic Majesties’ Third Request

Terceiro disco do grupo traz ritmo desacelerado em função da lisergia pesada

Loading

Ano: 2018
Selo: Quadrado Mágico
# Faixas: 8
Estilos: Psicodelia, Psych Pop, Dream Pop
Duração: 34:50
Nota: 3.5
Produção: Bike

Apesar de ser um campo muito fértil dentro da música brasileira, a banda que opta seguir pelos caminhos da psicodelia encontra um grande desafio. A recente popularização da estética às vezes implica em trazer certos elementos de forma banal e repetida desconsiderando o seu verdadeiro potencial. Felizmente, ainda encontramos corajosos guerreiros que procuram ir cada vez mais a fundo em suas construções lisérgicas, procurando novos significados para as profundas sonoridades que produzem. Entre estes, está BIKE, um conjunto que logo mostrou sua afinidade com a música psicodélica e que, com apenas dois discos, já conseguia expressar sensações únicas para os entusiastas da estética.

Their Shamanic Majesties’ Third Request, como o nome faz referência, é o terceiro disco do grupo. Desta vez, a banda procura trazer toda experiência lisérgica não tanto pela complexidade e sobreposição de timbres reverberados, mas pelos ciclos e repetições. Tomando muito cuidado para não entediar o ouvinte, riffs de guitarra e comentários de sintetizadores vão se consolidando aos poucos até que atinjam uma magnitude grandiosa, sem que tenhamos uma completa de ideia de como chegamos a esta dimensão. As coisas estão bem mais calmas que em outros registros, mas é curioso como este disco nos mostra que a potência psicodélica não diz necessariamente respeito à quantidade, mas à qualidade daquilo que é posto. Esta nova dinâmica também diz respeito ao regresso da banda para o interior e relações mais fortes com a natureza.

Guiado por uma linha de bateria constante e suave, o disco começa com Anhum, uma espécie de mantra envolvente que reconhece influências da natureza na atividade humana. Nuvem, por sua vez, acrescenta um groove de baixo malemolente dando balanço ao sintetizador hipnótico e os vocais aéreos. Chá narra uma experiência onírica como se este narrador estivesse muito longe e apenas comentando aquilo que nós ouvintes podemos apenas sentir. Voo / Pássaro pode ser suave, mas traz com vigor a plena imagem do voo leve, com elementos pouco a mercê de uma rígida estrutura rítmica. Por fim, Cavalo encerra o trabalho com uma espécie de junção dos elementos estudados nas outras faixas, combinados em favor de produzir a potencialidade máxima do disco, ou seja, a faixa que mais traz o aspecto sensorial das músicas (de forma quase sinestésica).

Este é um trabalho que mostra o constante movimento criativo de BIKE. Ainda que estejam fortemente dentro da Psicodelia, o grupo traz uma forma sofisticada e bem trabalhada de trabalhar com os elementos repetitivos, sem abrir mão da lisergia característica do gênero. Um disco para ser apreciado de forma lenta, mas que certamente vai gerar pensamentos rápidos.

(Their Shamanic Majesties’ Third Request em uma faixa: Cavalo)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Mannequin Trees, Catavento, Boogarins
ARTISTA: BIKE

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique