Resenhas

Bilal – A Love Surreal

Cantor de R&B traz referências do Jazz em sua composição sem conseguir inovar tanto no estilo, mas com algumas boas canções

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Ano: 2013
Selo: eOne
# Faixas: 14
Estilos: R&B, Neo Soul
Duração: 52:53
Nota: 3.0
Produção: Shafiq Husayn

Bilal (além do nome curiosamente engraçado para nós brasileiros) é um cantor de R&B incomum nos tempos atuais. Com um estilo de cantar desestruturado, baseado muito mais na improvisação do que nos padrões do estilo, se mostra inovador em alguns sentidos ao flertar com um modo de composição “jazzístico”. Em A Love Surreal, seu terceiro álbum, vemos se tal abordagem mostra-se certeira ou não.

Todo gravado ao vivo e espontaneamente, o disco pode ser sentido como uma expressão sincera de Bilal e seu grupo. Podemos perceber aspectos minimalistas em diversas canções, como o piano baixinho e uma bateria eletrônica quase sussurrada em Right at the Core, ou uma linha de guitarra abafada em Longing and Waiting. Ambas tem o vocalista alcançado notas em falsetes de forma exemplar e uma linha de voz que quase dialoga com o ouvinte de forma sexy e direta.

Aliás, o caráter ao vivo pode ser notado quando vemos Bilal tentando seguir as linhas de outros instrumentos, como no caso de Slipping Away e Never Be the Same. Isso é Jazz puro, improvisação, mas com perfeito entendimento entre todas as partes da banda. Alguns momentos acabam se mostrando mais notáveis que outros: Astray, por exemplo, tem duas linhas de guitarra interessantes, uma somente solando enquanto a outra joga acordes esparsos ao longo do tempo da música. A bateria encaixa-se perfeitamente e a voz de Bilal mostra a sua força.

A sensação é que estamos diante de um disco de R&B como antigamente, puramente enraizado na alma do artista. No entanto, tal abordagem começa a se mostrar datada justamente por apesar de sincera não traz nada de extremamente inovador, além de seu formato improvisado. Momentos mais agitados provam isso, como o single Back To Love, canção muito boa mas que é muito parecida com qualquer coisa que o Jamie Cullum fez no últimos anos. Ou West Side Girl, uma tentativa de batidas à la Flying Lotus mas que misturadas a voz de Bilal não dão muito certo.

O disco mostra-se cansativo se escutado à exaustão, sendo perfeito se aproveitado de forma espaçada, como algumas canções perdidas no shuffle do iPod. Aliás, talvez uma melhora considerável ocorra se A Love Surreal for acompanhado do seu mais belo par de fone de ouvidos. O melhor momento do disco, Winning Hand com um teclado persistente e viciante, aliado um baixo e baterias interessantes, pedem tal acessório.

Talvez diferentemente de outros estilos, como o Rock em que a revisão de outros formatos, o retrô, tome conta e seja necessário, o R&B vive um momento de expansão e criatividade. Artistas como Frank Ocean mostram isso e enxergam ainda um horizonte de possibilidades em relação ao estilo, mostrando que a inspiração no passado deve se dar somente como material de estudo, mas não através de uma mera cópia em uma tentativa de recriar o estilo. Bilal mostra-se inovador sob alguns aspectos, mas o resultado final acaba sendo mais do mesmo, sem contribuir muito para a evolução do R&B.

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ARTISTA: Bilal
MARCADORES: Neo Soul, R&B

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.