Resenhas

Blondie – Pollinator

Grupo retorna com disco cerimonioso mas eficiente

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Ano: 2017
Selo: BMG
# Faixas: 11
Estilos: New Wave, Rock Alternativo
Duração: 45:34
Nota: 3.0
Produção: John Congleton

Em mais de 40 anos de carreira, este Pollinator é apenas o 11º álbum original de Blondie. Nem precisaria frisar a importância da banda novaiorquina e do quanto ela revolucionou o cenário do Rock nos anos 1970, especialmente no setor “abertura de mentes” do estilo. Ao contrário de seguir parâmetros já desgastados então, algumas bandas abraçaram algumas ideias democratizantes, especialmente que envolviam simplificação e diversão sem muito compromisso, algo que corria paralelo ao Punk, porém com um espectro de influências bem maior. Deu no que a gente convencionou chamar de New Wave, um dos primeiros estilos a ganhar o termo “alternativo” para facilitar sua definição.

Para este novo disco, o grupo, capitaneado pela Blondie em pessoa, Debbie Harry, e encorpado pelos sócios-fundadores Chris Stein (gutarra) e Clem Burke (bateria), além de Leigh Foxx no baixo, recebe uma pequena constelação de colaboradores. Há desde o figurinha fácil John Congleton na produção, conferindo aquela contemporaneidade marota para a sonoridade nunca velha do grupo, gente como Johnny Marr e Charli XCX tendo a honra de ceder uma faixa cada para Debbie e cia. colocarem sua marca e levá-las para a eternidade com a marca da banda. Além deles, Joan Jett, David Sitek (TV On The Radio) e Nick Valensi (The Strokes) dizem “presente” em participações e coautoria de canções, tornando tudo bem próximo de uma bem resolvida celebração de criador e criaturas.

Ainda que o resultado do álbum seja satisfatório, pelo menos, bem melhor que a incursão eletrônica do anterior, o péssimo Ghosts Of Download, que vinha acompanhado de uma coletânea de regravações de sucessos da carreira, algo por aqui não fecha totalmente. Não é a voz de Debbie, parecendo preservada em algum cofre à prova do tempo, soando como se ela estivesse nos bons tempos. Também não é a média de canções, que se apresentam bem legais em alguns momentos, especialmente no single Fun, faixa da qual Sitek faz parte e em Long Time, de autoria da própria Debbie. Tampouco há problemas com as gravações de My Monster e Gravity (as tais composições de autoria de Marr e Charli, respectivamente). Seria um mistério, então? Talvez não.

Blondie ajudou a criar um estilo musical marcado pela inovação, pela novidade e que trazia “novo” até no nome. Quando surgiu nos anos 1970, era um sopro de leveza e, talvez não por acaso, grudou na música popular como sinônimo de juventude e tudo relacionado à ela. Também não por acaso, a primeira leva de bandas e artistas do século 21, se valeu da New Wave oitentista para vestir de novidade seu próprio som, com The Strokes à frente de seus clones/admiradores, liderando esse movimento. Dessa forma, o talhe clássico que Congleton forneceu ao espectro sonoro de Pollinator acaba por conferir ao álbum um ar meio velhusco que não combina com o estado de espírito suscitado pela música do grupo. Claro, isso não inviabiliza a audição, tudo é bem feito, bem tocado e pensado, talvez demais.

O que fica de bom nisso tudo é a prova que Debbie e sua banda – atualmente na estrada – ainda aguentam o tranco, são capazes de se manterem vivos e relevantes, dizendo “presente” quando convocados. Se fizerem um novo álbum daqui a algum tempo, talvez seja melhor liberar os parâmetros e atualizar o som. Certamente não será difícil pra eles.

(Pollinator em uma música: Long Time)

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BOM PARA QUEM OUVE: Madonna, The Rapture, The Strokes
ARTISTA: Blondie

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.