Do alto de seus 69 anos, Booker T.Jones teve o privilégio de testemunhar o nascimento da Soul Music nos anos 60, sobretudo a sonoridade que era feita ao sul dos EUA, mais precisamente em Memphis, Tennessee, lar da gravadora Stax. Mais que isso, à frente dos MG’s, Booker T gravou vários discos, escalou as paradas de sucesso com um grande hit – Green Onions e tocou em grande quantidade de standards produzidos pela Stax. Canções de luminares do estilo como Otis Redding, Sam & Dave, Eddie Floyd, Albert King, entre outros, exibiam sua assinatura inconfundível nos órgaos e teclados. Com os MG’s, Booker subiu ao palco do Festival de Monterey em 1967, para acompanhar Otis Redding em seu grande triunfo ao vivo.
No início dos anos 70, após o fim dos MG’s, Booker permaneceu ativo como produtor e músico, tocando em canções de Bob Dylan, Kris Kristofferson, Stephen Stills e produzindo o sensacional disco de Bill Withers, Just As I Am. Seu maior sucesso como produtor foi, no entanto, o tradicionalíssimo álbum de standards do cancioneiro americano lançado por Willie Nelson em 1978, Stardust. Em meio às participações e produções, Booker lançava um disco aqui, outro ali. Participou do concerto de 30 anos de carreira de Bob Dylan em 1992 e acompanhou Neil Young em turnê no ano seguinte, chegando a participar, em 2002, de Are You Passionate, disco do velho cantor e compositor canadense.
Booker parecia acomodado nessa rotina de produção e discos esporádicos, quando, em 2008, decidiu renascer. Lançou um arrasador disco com participação dos Drive By Truckers como banda de apoio e Neil Young nas guitarras. O sucesso foi tamanho que o velho organista voltou à estrada para várias apresentações ao vivo nos USA e Europa. Em 2011 outra pepita dourada veio às prateleiras do mundo: The Road To Memphis, mais um disco desse renascimento musical, cheio de participações especiais, que iam de Jim James (cantor do My Morning Jacket) a Lou Reed. Sound The Alarm, disco que ele solta no mercado agora, é mais um capítulo dessa nova fase em sua carreira.
Novamente estão presentes vários convidados, começando com o queridinho Mayer Hawthorne, que canta na faixa título, que abre os trabalhos em Sound The Alarm. Há momentos memoráveis e simples, como a levada upbeat atemporal de Feeling Good ou a introdução gospel modernosa em Gently, a cargo de Anthony Hamilton, mas o forte do disco está no conjunto de canções. Mesmo que seja quase um compêndio de variações possíveis do R&B, há espaço para pequenos detalhes importantes como a participação do guitarrista Gary Clark Jr. em Austin Blues ou os vocais anos 90 de Estelle em Can’t Wait, mas é em situações como 66’Impala, que conta com as percussões de Sheila E. e Poncho Sanchez, que o disco encontra sua razão plena de existir. O homem segue firme e mantendo o nível de seus últimos discos. Não deixe de ouvir.
Booker T – “Sound The Alarm” f. Mayer Hawthorne