Resenhas

Braids – Deep In The Iris

Trio canadense volta mais humano que nunca em seu terceiro álbum

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Ano: 2015
Selo: Arbutus Records
# Faixas: 9
Estilos: Eletrônico Experimental
Duração: 41'
Nota: 3.5

Se Flourish // Perish (2013) foi o disco com que o trio canadense Braids se mostrou ao mundo através de seu som Eletrônico, o grupo parece “reumanizar-se” com Deep In The Iris. Aqui, a banda não só traz de volta elementos mais orgânicos em sua sonoridade, como também veste-se de temas que de uma forma ou outra discutem nossa humanidade: misoginia, relacionamentos, feminismo, depressão, ansiedade, entre outros. O resultado é um disco provocante, seja para repensarmos partes de nossa cultura ou mesmo de nossas vidas.

A parte sociológica mais incisiva do disco vem com seu principal single: Miniskirt. Em pouco mais de cinco minutos, a música discute o machismo e a posição abusiva da sociedade em relação as mulheres. Raphaelle Standell-Preston e companhia disparam letras como “It’s like I’m wearing red and if I am, you feel you’ve the right to touch me, because I asked for it” ou “but in my position, I’m the slut, I’m the bitch, I’m the whore, the one you hate. and there’s a name for this kind of man, a soft one at that, Womanizer, Casanova, Lothario”. Direta e sem rodeios, a faixa propaga sua mensagem feminista de um jeito que pode ficar claro a muita gente a tamanha imbecilidade machista que impera em nossos dias.

O que faz deste disco tão humano são suas diversas nuances. Depois de uma letra tão empoderadora como Miniskirt, o trio se joga de cabeça em uma canção que expõe o lado fraco do interlecutor, de alguém que está perdido e arrependido após o fim de relacionamento: “I could think of it as/I gave all my best in loving you/But I know it’s not true/It’s just my way of getting through/We experience the love that we think we deserve/And I guess I thought/I didn’t need much from this world/So I left you/But you’re exactky what I like”. Ser tão contraditório é algo tão cotidiano, mas ainda assim deixar esses sentimentos aflorarem parece ser algo tão difícil em nosso corrido dia a dia – é um verdadeiro desafio perder-se e encontrar-se dentro dos próprios sentimentos.

E o disco continua mostrando esse leque de sentimentos em suas demais faixas: o querer estar sozinho (Happy When), o de sentir-se só em um relacionamento (Getting Tired), o perigo de fantasiar uma relação como se fosse um filme pornô (Sore Eyes). O grupo chega até mesmo a questionar a necessidade de se ter alguém em Bunny Rose, dizendo que talvez um cachorro preencha essa lacuna. Humano, demasiado humano, como diria Friedrich Nietzsche. E ainda cito um aforismo desta obra: “Toda crença no valor e na dignidade da vida se baseia num pensar inexato; (…) porque cada um quer e afirma somente a si mesmo” – algo que faz muito sentido dentre desse contexto.

Se grande parte do disco tem esse apelo demasiadamente humano, a parte instrumental que vem dele é novamente guiada pelos computadores. O polifônico misto de sons é criado a partir do encontro dos sintetizadores se entrelaçando com baixos e melodias, das batidas eletrônicas (ora engalfinhando em uma feroz batalha por aparecer, ora se mantendo em segundo plano) e das notas do piano que engrandecem grande parte das faixas. O vocal de Rapahelle é também outro, se não “o”, ponto alto do disco – sendo sua capacidade de interpretação um dos maiores destaques das faixas.

Estilisticamente, o disco passa também por grande leque de possibilidades. Há faixas mais etéreas, como Letting Go e Happy When (algo que pode agradar fãs de nomes como Bat For Lashes), até outras que se aproximam do Drum’n’Bass, como Blondie e Warm Like Summer, além de bastante coisa nesse entremeio. Deep In The Iris é um disco provocante em todos os sentidos e um passo e tanto na carreira do grupo, que finalmente se firma como um daqueles nomes que não se deve perder de vista.

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BOM PARA QUEM OUVE: Bat For Lashes, Zola Jesus, Björk
ARTISTA: Braids

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts