Resenhas

Branko – Atlas

Trabalho de estreia do produtor é ambicioso e levanta questões sobre a música global

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Ano: 2015
Selo: Enchufada
# Faixas: 10
Estilos: World Music, Experimental, Hip hop
Duração: 40:45
Nota: 3.5
Produção: Branko
Itunes: https://geo.itunes.apple.com/us/album/atlas/id1019454179?mt=1&app=music

Que a música é global, nós já sabemos. Mas o que o produtor português Branko propôs em seu disco de estreia comprova essa tese de forma decisiva. Ele realizou o sonho de todo músico: Com apoio de Red Bull Studios, teve a oportunidade de viajar por cinco cidades ao redor do globo coletando influências, propondo parcerias com artistas locais e vivendo a cultura produzida em cada uma dessas localidades.

Essa foi uma das ideias mais interessantes do ano, especialmente por uma das visitas do produtor ter ocorrido na cidade de São Paulo, o que sempre levanta questionamentos de como a música brasileira é vista pelo estrangeiro e, também, de que forma ela se mistura aos outros gêneros musicais. Pois bem, na hora de ouvir Atlas, a ansiedade era grande e, embora o registro nos desperte a curiosidade, algumas questões são levantadas durante sua audição.

Sem dúvidas, Branko comprova que a música é global, afinal, as parcerias construídas no disco rendem ótimos frutos, evidenciando as particularidades de cada um dos lados. A faixa Let Me Go, que conta com Nonku Phiri e Mr. Carmack, brinca com o suíngue africano e sintetizadores quase que Chillwave, propondo uma música que é ao mesmo tempo calma e dançante. Já Take Off pega emprestado o flow de Princess Nokia, uma rapper que evoca as referências mais dançantes e agitadas da música étnica, trabalho bastante parecido com o de M.I.A.

Pelo Brasil, somos surpreendidos com Fluxo uma combinação do trap mais pesado possível, com as rimas violentas e cruas de Don Cesão, criando assim um sentimento de conexão constante entre o Hip-Hop das diversas partes do mundo. Este é um trabalho inegavelmente ambicioso, mas será que ele é realmente tão diferente do que já é produzido?

Ficamos instigados em pensar se o trabalho teria sido tão diferente assim se tivesse sido produzido apenas no estúdio de Branko, em Portugal. O fato dele ter visitado essas culturas repercutiu na qualidade das faixas no geral? A resposta pode ser um tanto quanto complexa e altamente debatível, mas, de qualquer forma, percebemos que o mundo já esta tão conectado que o tipo de som que ele se mostra disposto a produzir não é muito diferente de outros DJs e produtores por aí. Embora seja um projeto bastante grandioso, algumas canções mostram certos estereótipos, como Made Of Gold e Whole Night, ambas detentoras de uma certa ausência de algo que instigue o ouvinte a permanecer escutando o trabalho.

As repostas dessas questões não tornam Atlas um disco ruim. Muito pelo contrário, todo este processo de indagação, comprova a ambiciosidade de Branko, tornando o disco bastante atual. Alguns deslizes quanto às estruturas de certas composições e o apego excessivo a estereótipos podem atrapalhar a audição, mas certamente não impedem entusiastas das novas expressões musicais a saborearem o disco.

Curioso, instigante e polêmico.

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BOM PARA QUEM OUVE: Nao, Nosaj Thing, Jamie xx
ARTISTA: Branko

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique