Resenhas

Built to Spill – Built to Spill Plays the Songs of Daniel Johnston

Embora subtraia a essência caótica do saudoso músico, despretensiosa homenagem ressalta aspectos melódicos e pode funcionar como um “Daniel Johnston para leigos”

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Ano: 2020
Selo: Ernest Jenning
# Faixas: 11
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo
Duração: 34’
Produção: Jim Roth

Aconteceu assim: lá pelos idos de 2015, Built to Spill sofreu duas baixas no elenco. Brett Nelson e Scott Plouf, dois sujeitos que integravam a banda há mais de quinze anos, resolveram simultaneamente pedir demissão. Assim, depois de arranjar novos integrantes, o projeto começou a ensaiar alguns covers, para além das músicas habituais, como uma estratégia para reacender o próprio interesse pelo repertório. Naturalmente, sendo Daniel Johnston o ídolo cult que sempre foi, algumas de suas canções entraram para a playlist.

Um par de anos depois, o organizador da turnê de Johnston – que trabalhava no mesmo escritório do responsável pela Built to Spill – entrou em contato com eles, oferecendo-os o cargo de banda de suporte nos shows do músico. A parceria, muito frutífera, resultou naquela que acabou sendo a última turnê de Johnston – que tristemente acabou por falecer no final do ano passado.

Como uma homenagem ao amigo, a banda enfim resolveu gravar este Built to Spill Plays the Songs of Daniel Johnston. O propósito do disco é ser mais uma lembrança para os membros, um presente para os amigos, uma curiosidade. É algo assumidamente despretensioso, que simboliza esse momento importante na trajetória da banda, mesmo que paralelo às suas atividades principais.

Daniel Johnston sempre foi um artista muito prolífico. Outsider, lidou com questões de saúde mental por toda sua vida. Por isso, seu trabalho resulta em pepitas musicais em estado bruto. Não existem grandes refinamentos hi-tech, e são muitas as intervenções, ruídos ou inserções sonoras, em cada faixa. Esse aglomerado de situações é o que define Daniel Johnston, e a maneira como suas músicas são gravadas representa quem essa pessoa genial sempre foi.

Nas versões de Built to Spill, as músicas soam passadas a limpo. Ou seja, acabam perdendo a essência caótica das canções de Johnston. No entanto, é interessante notar como, retiradas de contexto, as faixas do álbum parecem ressaltar os momentos melódicos da obra do músico. Afinal este exemplar pode ser um excelente ponto de partida para a obra do músico – uma espécie de “Daniel Johnston para leigos” – ou, até mesmo, uma boa lembrança para aqueles que, como eu, já não ouviam há muito tempo seu legado sonoro.

(Built to Spill Plays the Songs of Daniel Johnston em uma faixa: “Honey I Sure Miss You”)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte