Resenhas

Cabana Café – Moio

Novo álbum do grupo paulista é um convite à intimidade criativa

Loading

Ano: 2016
Selo: Balaclava
# Faixas: 9
Estilos: Lo-Fi, Rock Alternativo, Psicodelia
Duração: 24:05
Nota: 3.5
Produção: Cabana Café

Moio, o termo, a princípio, uma corruptela de “molho”, significa algo como “legal”, “bom”, “bacana”, entre os integrantes de Cabana Café. Mais ou menos assim: hoje vamos lá na balada tal porque vai estar moio. É essa a sensação que a banda quis transmitir ao dar o nome do segundo álbum, uma boa e generosa ideia do que “está tudo bem”, para um feixe de canções produzidas de forma não-usual, ou seja, através de improvisações no estúdio, de experimentos não planejados, de uma condição de liberdade aplicada à prática de se fazer música. O resultado, com o perdão do trocadilho, é Moio, o álbum, que faz bonito em meio ao que temos no cenário musical brasileiro.

Costumamos criticar a produção musical brasileira atual, sempre em direção ao que chamamos de “mainstream”, no qual imperam os ritmos popularescos manipulados pela mídia preponderante, com vistas à venda e à catequese do gosto mediano/medíocre dos que não tiveram chance de conhecer outras alternativas musicais. O segundo disco de Cabana Café é o extremo oposto desta realidade, é inegavelmente brasileiro, cheio de referências a artistas atuais e de outros tempos verde amarelos, mas que está longe de compactuar com essa facilidade/vazio comercial que parece ter dominado completamente o que temos aí para consumo de massas. É tão diferente que parece de outro planeta e nada pode ser melhor que isso nestes tempos estranhos.

Moio tem nove canções, sendo que E O Homem Não Foi Pra Lua e Just Love são bem curtinhas, com menos de um minuto, funcionando como fragmentos intencionais de melodias e ideias. Além delas, a faixa-título, com uma levada lenta com ares inegavelmente Funk setentistas e Manipura, com clima de passeio pela Floresta da Tijuca com roupa de astronauta, não chegam a dois minutos de duração. Sobram, deste jeito cinco canções maiores e estruturadas desta forma aí, descrita nos primeiros parágrafos deste texto.

Salta aos ouvidos a belezura de Vibrar Na Garganta, com bons vocais de Rita Oliva, certa ambiência sessentista reempacotada para os tempos atuais e um catártico solo de guitarra com quase dois minutos de duração, mostrando que a banda não está muito preocupada com parâmetros encolhedores de hoje. A última canção, Descarrego, vai pelo mesmo caminho, com levada hipnótica, clima de sutileza noturna e explosão guitarrística perto do fim, com ênfase no barulho pela via melodia inegável.

A abertura com Vândalo mostra a voz de Rita em meio a uma letra confessional de ênfase nos comportamentos fora dos padrões, calcados na intensidade e contradições. A performance dela novamente impressiona pela entrega e explosão. O single Qualquer Lugar tem guitarrinhas fazendo chacundum, andamento quase-dançante e um ar noturno de passeio pela cidade que se torna parte de nós. Logo em seguida, Pequena Morte, vem mais arrastada, enfatizando algo mais Psicodélico, lento e espacial.

Este segundo álbum da banda paulistana tem a boa disposição de oferecer a intimidade de seu processo de composição e não procura macular nada, dando ao ouvinte a chance de percorrer caminhos curtos e que soam – à primeira vista – inacabados. A ideia é essa, mostrar tudo. O resultado é um grupo corajoso e com muito a oferecer. Estamos de olho.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Jenni, Dônica, Selton
ARTISTA: Cabana Café

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.