O som do duo CACO/CONCHA, formado pelos primos André e Felipe Nunes, está no meio do caminho entre São Paulo e Ubatuba – um equilíbrio (ou uma síntese) entre o caos da metrópole e a brisa leve do litoral. A urgência da cidade grande e a paz de estar com os pés na areia, em frente ao mar. Dessa fusão, nasce o disco de estreia autointulado do projeto. O primeiro single, “Cassis Cornuta”, já havia apresentado uma sonoridade que aglutina esses “astrais”, com injeções de psicodelia manuseadas em doses ideais para o incremento de um universo mágico e colorido. Agora, no disco cheio, surgem cores ainda mais fortes, diversificadas e harmônicas, em uma produção aguçada, aberta a improvisações, mas escorada em pesquisa minuciosa e dedicada.
Entre sintetizadores analógicos e timbres mais modernos, a dupla trilha uma viagem que ecoa diferentes períodos. Há o balanço do hip-hop californiano noventista, mas também o boogie brasileiro, suingado e quente, dos anos 1970; surgem tributos ao pop-noturno-brasileiro-radiofônico dos anos 1980 e, ao mesmo tempo, despontam referências ao poder percussivo e dançante dos ritmos latinos. É um repertório escalafobético, no melhor sentido que esse adjetivo pode ter. CACO/CONCHA tem natureza mutante e imprevisível – de espírito de mixtape feita na fita, mas com corpo de disco de estúdio.
Logo após o single de estreia dando início a jornada, chega o beat de groove intenso, em uma mescla de instrumentais do rap e do funk, na faixa “Modo Avião”; enquanto “Diádromo” parece vinda de um metrô paulistano nos anos 1980 – o som de uma metrópole chuvosa. “São Sebastião”, por sua vez, é embalada por uma percussão vibrante que desemboca em um poderoso solo de saxofone. “Chit Chat” ressoa um envolvente funk brasileiro dos anos 1970, em uma espécie de interlúdio, e “Divino Amor” flerta com a disco, mas traz o punch do house – com arremate de uma melodia pop pegajosa. “I Wonder” encerra a viagem em um misto de passinho-miami-bass e aura indie, à la Friendly Fires.
A estreia do CACO/CONCHA transita por diferentes influências, sem que se esvazie uma essência particular e autêntica. E mesmo unindo doses diversas – do boogie brasileiro ao R&B, da psicodelia à música eletrônica –, a mistura espalha um perfume pop por todo o repertório. Uma trilha sonora de um lugar que não existe, transitório e no meio do caminho, mas de reconhecimento e envolvimento fáceis.
(CACO/CONCHA em uma faixa: “São Sebastião”)