Resenhas

Cambriana – Manaus Vidaloka

Segundo disco do grupo goiano traz novas referências e exímia qualidade em produção instigante

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Ano: 2018
Selo: Independente
# Faixas: 11
Estilos: Afrobeat, Psicodelia, Indie Rock
Duração: 52:18
Nota: 4.0
Produção: Luis Calil e Pedro Falcão

Em 2012, o cenário brasileiro de música Alternativa foi surpreendido com uma das expressões musicais mais intimistas e sinceras que já se tinha escutado. O grupo goiano Cambriana colocara no mundo House Of Tolerance, uma mistura suave e bem feita de referências que iam de um Indie Rock diverso até contornos sutis de Dream Pop e Soft Rock.

A sutileza e introspecção se mostraram o principal alimento para a sonoridade do grupo que mais tarde se comprovou em Worker, um EP que apesar de curto conservava um mistério instigante entre suas infinitas camadas de reverbs. Cinco anos depois desta sequência de trabalhos leves, o grupo manifestou seu esperado retorno com um álbum que pode assustar um ouvinte assíduo destas eras passadas, mas certamente vai envolve-lo assim que as primeiras batucadas tomarem forma.

Indo para uma direção bem menos frágil e suave, Manaus Vidaloka reinventa as referências do grupo, mas mantém uma qualidade de produção inegável e já conhecida. Dessa vez, a pluralidade criativa do grupo volta seus olhos e ouvidos para sonoridades próximas do Afrobeat e de todos os subgêneros que se constroem à sua volta.

Entretanto, Cambriana não procura nestes gêneros aquela expressão estereotipada, costurando sempre entre cada elemento típico um toque novo que estimula uma audição mais atenta. Inclusive, atenção é uma palavra chave e importantíssima para apreciar este registro, pois é necessária uma postura ativa do ouvinte, reconhecendo os timbres e possibilidades que o grupo cria. Assim, parte do encanto de Manaus Vidaloka está justamente no espaço que o grupo deixa para o ouvinte entender este universo caótico e expansivo e, portanto, dar diferentes interpretações.

Big Sensations anuncia a natureza do disco que está por vir: diversa, bela e explosiva. A introspecção do disco passado House Of Tolerance cede espaço para uma epifania da alma que é maior do que o corpo do ouvinte e faixas como a barulhenta Center Of The Universe e a densa e psicodélica Björk. O single Lucifer alia a percussão envolvente da Afrobeat com uma sensação esquisita e subliminar bem construída. Here It Comes, por sua vez, usa truques de edição de áudio, ritmos acelerados e timbres fantasmagóricos para criar sensações indescritíveis que despertam uma curiosidade tremenda naquele que tenta desvendá-la. As guitarras etéreas de Big Surf servem para deixar o ouvinte sem pontos fixos de apoio, estimulando que ele fique solto neste universo diverso e amplo.

Mais uma vez, o grupo demonstra seu talento e domínio em construir ambientes que são tão diversos quanto precisos em sua singularidade. Um trabalho para se perder dentro e não esperar ser encontrado por muito tempo.

(Manaus Vidaloka em uma faixa: Lucifer)

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BOM PARA QUEM OUVE: Sinkane, Baleia, Radiohead
ARTISTA: Cambriana

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique