Sermão foi anunciado como o último capítulo de uma trilogia iniciada em 2013, quando Castello Branco lançou Serviço. Após um outro volume (Sintoma, 2017), o terceiro disco busca manter a coesão com a história já proposta ao longo desses anos e músicas, e também mostrar uma identidade própria, nova, assim como seus anteriores fizeram.
Isso porque acontece aqui a mesma sensação de quando ouvimos Sintoma pela primeira vez, a de escutarmos aquele Castello que já conhecíamos e também a de perceber um novo momento na carreira do artista. Se naquele álbum seu som era mais introspectivo e eletrônico, ele agora está mais expansivo do que nunca, acompanhado de muitos timbres e arranjos inegavelmente grandiosos.
“No Mires Atrás”, a canção que abre Sermão, faz essa ligação entre a sonoridade do disco anterior e o novo trabalho. Na sequência, a trinca “Geral Importa”, “Powerful” e “Fortaleza” mostram o músico cantando bem para fora e com muito ar na voz – um lugar muito distante do intimista quase sussurrado de faixas dos outros álbuns, como “Meu Reino” e “Céu da Boca”. As mensagens positivas das faixas, no entanto, mostram que a essência do cantor e compositor permanece, mesmo com todas as novidades.
Enquanto essas quatro primeiras faixas parecem responder à estética do seu trabalho anterior, “De Pouquinho em Pouquinho” resgata um pouco da sonoridade de Serviço. Baixando um pouco o volume, Castello reuniu elementos bastante referenciais da música brasileira em uma canção que, acenando a “Kdq” e “Crer-Sendo”, tem tudo para se tornar favorita de um público que o acompanha desde sua estreia.
Essa guinada que parece ir de uma sala de teatro para o palco de um festival também se nota na percussão demarcada de “Fortaleza”, na pegada Gospel de “Powerful” e até na levada Indie Folk de “Juntos Com Certeza”. A cada faixa, reafirma-se o fato de que trata-se de um disco para você não só cantar junto, mas cantar alto.
Daí ser tão interessante quando Sermão chega em “Cola Comigo”. A balada brinca com a tensão dos elementos eletrônicos e dos instrumentos de sopro em um primeiro momento para, em seguida, entregar uma levada em voz e violão que dá base à canção. Na simplicidade do verso “Se o medo apertar, cola comigo” no refrão, Castello acaba falando mais alto no momento mais suave de toda a obra. Não à toa, as três faixas seguintes, ainda que muito bem intencionadas, ficam ofuscadas no encerramento do registro após um clímax tão bem definido.
Sermão, como um todo, é congregacional, é para ninguém soltar a mão de ninguém (de fato) em uma época tão pautada pelo individualismo. É quase como se o disco não tivesse sido feito para os fones de ouvido, tamanha a dimensão de sua proposta sonora. É em seus momentos mais suaves, porém, que brilha a maior habilidade de Castello Branco: Comunicar a sensibilidade. E isso é independente da quantidade de instrumentos utilizados no estúdio ou no palco.
(Sermão em uma música: “De Pouquinho em Pouquinho”)