Resenhas

Cat Power – Sun

Chan Marshall aponta para novas direções em seu novo registro, sem medo de decepcionar os fãs que conhecem as melhores qualidades de seu trabalho

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Ano: 2012
Selo: Matador
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Synthpop
Duração: 48:50
Nota: 4.0
Produção: Cat Power

Você não precisa conhecer nada de Cat Power para apreciar Sun. O disco vem como uma obra sólida com momentos bem interessantes e uma ampla agradabilidade que vão chamar a atenção de um novo público para a obra de Chan Marshall. Os fãs antigos não ficarão decepcionados, embora o álbum não pareça ter sido feito para eles.

Digo isso pois é frequente vermos um lançamento de alguém já consagrado que não mostrava nada novo há muito tempo (quatro anos, no caso) querer apenas saciar as saudades do público cativo ao trazer um conteúdo que resuma as maiores conquistas do artista ou banda sob um verniz contemporâneo. Esse não é o caso de Sun.

Sua pegada mais eletrônica poderia ser facilmente confundida com essa “repaginada” mais “atual” que alguns fazem, mas um olhar mais atento revela o que é uma ótima escolha dos recursos que acompanham os versos com um pé em questões existenciais, sobre as quais a maturidade de Chan reflete tão bem.

Os quatro anos que separam este de Jukebox (2008) serviram de base para as experimentações com sintetizadores e drum machines, tempo suficiente também para que seus testes resultassem em boas composições que funcionassem bem como um registro da época em que a cantora lança este seu novo disco.

As músicas estão posicionadas da maneira mais certa para os quase 50 minutos de álbum passarem rapidamente, apesar de algumas faixas serem bem parecidas entre si. A já conhecida Cherokee, a faixa-título e o single Ruin formam o tríptico de abertura – são três canções que revelam muito da pegada que vemos ao longo da obra.

Há uma pequena tensão nas entrelinhas que permeia cada uma das faixas, algo que fica um pouco mascarado com o vocal tranquilo de Chan na maior parte delas, algo que até a música que deveria ser mais calma no meio do álbum carrega. Aliás, principalmente ela, Always on My Own, possui certa inquietude nos intervalos com poucos sons no meio de seus timbres.

Ao final da experiência de ouvir Sun, fica essa tensão, como no contraste da percussão rápida em Manhattan, na força de Silent Machine e no prolongamento (de mais de dez minutos) em Nothin But Time, que conta ainda com uma marcante e grave participação do vocal de Iggy Pop.

É uma inquietude para ser livre, como as letras acabam denunciando, não apenas na maneira como se vive, mas também no fazer música. Quem conhece Cat Power de verdade não deve se surpreender muito com as escolhas que a artista fez para este seu nono álbum, e não é sua inventividade, seu aspecto quase experimental, que deve despertar o interesse das novas gerações, mas justamente suas características mais humanas – as mesmas que conquistaram tantos fãs ao longo das últimas décadas.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.