Resenhas

Catch Pritchard – I Still Miss Theresa Benoit

Ainda que gravado em um contexto significativo, disco de estreia, com mistura pragmática entre Indie e Folk, é pouco memorável musicalmente

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Ano: 2021
Selo: Independente
# Faixas: 9
Estilos: Indie, Folk
Duração: 38'

É sempre um risco para o resenhista ler o que a banda ou artista tem a dizer sobre a obra antes de tecer sua crítica, visto que o texto poderia cair na armadilha de tentar “responder” o que foi dito ao longo de sua resenha. E temo dizer que as próximas linhas deste texto foram escritas diretamente do centro da armadilha que este resenhista caiu.

Isso porque Catch Prichard, por mais que seja uma dessas bandas que ostentam a pose de não querer falar muito delas mesmas – aquela discrição blasé que um ou outro ainda insiste em manter viva –, diz no texto de apresentação de seu primeiro álbum, I Still Miss Theresa Benoit, que as novas músicas são as “mais expansivas” que o grupo californiano já fez. Vem com uma certa frustração, portanto, constatar durante a audição que as faixas não crescem tanto assim, seja em volume ou mesmo na atmosfera. Pelo contrário, elas parecem alcançar ali o ambiente em que foram gravadas, diferente de estéticas como o Synthpop ou o Post-Rock, que se espiralam a níveis quase barrocos de expansão.

Por falar em estilo, o alcance dessas nove músicas é também bastante limitado enquanto distância de seus ramos em relação às raízes. Em outras palavras, o disco não se ramifica para além de uma intersecção do Indie com o Folk já tão estabelecida em um passado cada vez mais distante e, por mais que a banda apresente algumas boas composições executadas adequadamente, nenhuma música aqui chama tanto a atenção ou se sustenta na memória. As exceções – na minha vontade de encontrar exceções – são “Lipstick and Fur”, que lembra nomes como Beirut, e “Lawless Land”, que parece o que um Antony and the Johnsons das antigas faria em um flerte com a guitarra do Country. Mas será uma boa ideia suas melhores canções serem as que evocam outras bandas?

Há, porém, uma informação no texto que apresenta I Still Miss Theresa Benoit que te faz voltar ao disco e ouvi-lo novamente em uma reinterpretação de cada um de seus segundos. Ele foi gravado em março de 2020 durante uma semana que o vocalista não sabia que havia contraído covid-19. Diz a banda que houve discussões sobre regravar ou não os vocais tão cansados e com pouco ar (e, devo dizer, nada expansivos), mas prevaleceu a decisão de deixar a obra virar também um registro de uma época, sendo ela também afetada pela pandemia.

Isso confere novos significados à melancolia que se arrasta por praticamente todas as faixas, o que antes dessa informação parecia apenas uma vontade muito grande de ser Nick Cave. Faz mais sentido o violino “cantar” o refrão de “Woman” depois das estrofes sem força no vocal, por exemplo. Faz pensar que “A Reef of Dead Metaphors”, mesmo que sempre imaginada como uma faixa instrumental, veio a calhar para um encerramento do disco sem voz. E “Worried Man”, talvez a mais volumosa da obra inteira, justifica o peso que não lhe deixa levantar voo em seu vocal cansado.

É uma obra que tem seu valor mais por encapsular o momento em que o mundo estava entrando em um novo capítulo de sua história do que na força de suas músicas por si só. E esse tipo de interpretação só acontece a partir da informação sobre a situação em que ele foi gravado, não da audição em si. Talvez ele seja o mais expansivo possível em suas circunstâncias, mas dificilmente conseguirá esticar seus curtos braços para abraçar seus ouvintes.

(I Still Miss Theresa Benoit em uma faixa: “Woman”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.