Resenhas

César Lacerda – Paralelos & Infinitos

Com o amor como tema principal, músico cria obra sensível e contemporânea

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Ano: 2015
# Faixas: 8
Estilos: Indie Pop, Indie, MPB
Duração: 26'
Nota: 4.0
Produção: Pedro Carneiro
SoundCloud: /tracks/218462030

Acalentador e acalorado, César Lacerda tomou Paralelos & Infinitos, seu segundo álbum, uma das atitudes mais arrscadas (e, portanto, corajosas) que um artista pode ter: Fazer um trabalho sobre amor.

Se Porquê da Voz, seu primeiro disco, vinha quase como um manifesto de seu ofício, este vem como uma coleção de felizes notas de rodapé, ou bilhetes deixados no espelho do banheiro. Antes, ele era brasileiro, mineiro, nordestino, africano e metropolitano, enquanto sua persona da vez é intimista, carinhosa, até incerta em alguns momentos. Porquê da Voz é corpo e Paralelos & Infinitos, alma.

Há um sorriso permanente dos primeiros aos últimos segundos do álbum. Não é um estado de euforia, longe disso, mas um contentamento reconfortante na hora de cantar “Love is so special, love is so delicious” (em Love Is) ou “Esse encanto torna o mundo válido, nítido, ótimo, nunca descoberto” (21), com uma sobriedade ameaçada apenas pela embriaguez no próprio sentimento.

O disco parece seguir uma estrutura convidativa que ganha o ouvinte pelo carisma de Algo a Dois na abertura (e essa faixa não ser um grande hit só nos provaria o quanto a vida é injusta) e revela seu maior valor aos poucos, com um recheio de tirar o fôlego em Olhos, Guarajuba e na faixa-título, todas em sequência esmigalhadora como poucas em 2015. A última música, Quiseste Expor Teu Corpo Nu, consegue fechar o disco de forma que o loop de volta à primeira seja quase inevitável.

A presença da artista Victoria Vasconcelos na capa e em Guarajuba revela sua figura como musa da obra, que tem ainda Lucas Vasconcellos, Mahmundi e Cícero nos instrumentos de algumas das faixas, enquanto César tocou quase todos os outros timbres – um processo quase “artesanal” que muito tem a ver com a proposta do disco.

E é assim, embebido em carinho, que César Lacerda encanta em Paralelos & Infinitos, um trabalho calcado na intimidade de sorrisos e lágrimas de mãos dadas, na saúde ou na doença. Se poucos ousariam trabalhar o amor em primeiro plano, apenas um ou outro conseguiria cumprir a missão sem cafonices ou excessos. Ouça o disco e comprove sorrindo a exceção.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.