Moth, o terceiro álbum do duo americano Chairlift, busca a inspiração temática na fragilidade da mariposa, um inseto que parece, em sua trajetória ao redor de uma lâmpada acesa, ao mesmo tempo confuso e obstinado.
Tal metáfora, para Caroline Polachek, serve muito bem para sua personalidade romântica incorrigível, como podemos observar na faixa – talvez o melhor exemplo do álbum como um todo – Crying In Public. Mas vale observar que, embora Moth tire bastante proveito da inadequação social de sua narradora, digamos assim, o álbum não se detém somente a ela.
Uma das maiores qualidades de Moth é justamente essa “inadequação”, característica que acaba por tornar o álbum uma amálgama temática que, ao mesmo tempo em que alarga as fronteiras dos estilos que experimenta, não pertence, legitimamente, a território nenhum.
Temos a inspiração pela cultura oriental (Ottawa to Osaka), embora um pouco menos otaku que Grimes e um pouco mais rebelde como o cineasta Wong Kar Wai, como vemos no clipe de Romeo, inspirado no filme Amores Expressos (Chung Hing Sam Lam, 1994).
Instrumentalmente, Moth parece quebrado, descontruído. Enquanto aproveita a influência do Indie contemporâneo fragmentado como Alt-J ou Kins, apoia-se na proficiência vocal de Polachek para apostar numa sedução vinda do R&B funkeado. Essa pluralidade de temas que não encaixa em lugar nenhum e embaça os limites entre os territórios acaba por produzir um groove que opera de maneira muito mais subliminar do que corporal, e, assim, abre espaço até para o universo eletrônico da islandesa Björk (ouça Unfinished Business).
Em geral, Chairlift, em Moth, aproveita-se de sua estranheza desajeitada para produzir um trabalho interessantíssimo, que não se adapta e, por isso mesmo, acaba por criar novas possibilidades de interesecção entre estilos musicais.