Resenhas

Chance The Rapper – Coloring Book

Sua terceira mixtape chega com a responsabilidade de manter a alta expectativa em torno de sua carreira

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Ano: 2016
# Faixas: 14
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 57:13
Nota: 4.0
Produção: The Social Experiment, Lido, Brasstracks, Francis and the Lights, Jordan Ware, Stix, CBMIX, Rascal, Peter Cottontale, Kaytranada, GARREN, Cam O'Bi
SoundCloud: /tracks/230266213

O jovem Chance The Rapper como headliner do Pitchfork Festival 2015 – ocupando uma posição que em outros momentos foi de Wilco, Beck, R. Kelly e Kendrick Lamar – foi o primeiro elemento que chamou minha atenção para o grandioso futuro que o americano poderia ter. O clima durante o show também era de despedida, com um emocionado Chancelor Bennett dizendo que aquele talvez fosse um de seus últimos momentos em um show pequeno em sua cidade natal, sinalizando que o próprio enxergava seu futuro próximo como um grande nome da música Pop. Coloring Book, sua terceira mixtape, ainda totalmente independente, sem selo ou gravadora, é o trabalho que chega com esta responsabilidade nas costas.

Acid Rap, de 2013, foi seu primeiro trabalho de grande exposição, seguido por Surf (2015), projeto colaborativo lançado sob o projeto Donnie Trumpet & The Social Experiment, que, apesar de interessante, tinha Chance como coadjuvante. The Life Of Pablo, de Kanye West, com participação intensa de Chance, principalmente em Ultralight Beam e Waves, foi o primeiro holofote ligado para o apadrinhamento e a relação próxima que seria criada entre os dois músicos de Chicago e que seria desenvolvida agora em Coloring Book.

Por tudo isso, a expectativa era altíssima e musicalmente, o potencial enorme que Chance The Rapper vem mostrando desde que surgiu, ainda não foi totalmente atingido aqui. Talvez por isso mesmo a ideia de mais uma mixtape, que, se ainda carrega algum significado nos dias de hoje, tem o sentido de algo menos “definitivo” e ambicioso que um álbum. Coloring Book funciona como um novo capítulo do diário do rapper, que assumidamente não se enxerga mais no garoto inconsequente de Acid Rap. É como se o músico, antes de se sentir totalmente maduro, quisesse nos brindar com um update sobre como está sua cabeça, sua vida e suas inspirações.

Se Drake puxou de Kanye seu lado romântico, Chance se inspira em como West usa sua fé, que permeou toda sua carreira, mas transpareceu ainda mais em seu último trabalho. Não é como se neste disco, ele se limitasse a uma doutrina específica ou a símbolos de uma religião. São músicas que celebram a vida, a felicidade e refletem o carisma de Chance. Em certos momentos, “Deus” passa a ser algo mais abrangente. A repetição do trecho “Music Is All We Got” mostra que seu Deus pode ser a própria presença da música em sua vida.

O que acaba enfraquecendo muitas partes do álbum, no entanto, são músicas incríveis com versos pouco inspirados. Dois dos momentos musicalmente mais interessantes do disco, por exemplo, são pobres liricamente. All Night, produzida por Kaytranada e com um dos melhores refrões dançantes do ano, embala uma boba repetição de “All night, I been drinking all night, ay ay”. A belíssima How Great convida um coral Gospel impressionante para louvar Deus com versos óbvios, pra dizer o mínimo, como “How great is our God” e “God is better than the world’s best thing”. Tais letras pobres são ainda mais irritantes pois ao longo do álbum encontramos conclusões inteligentes e metáforas belíssimas de Chance, que obviamente nos levam a esperar este alto nível ao longo de todo o álbum.

Same Drugs, por exemplo, fala do dissolver gradual de um relacionamento longo, do momento em que se percebe que ambas as pessoas evoluíram em retas paralelas, que nunca mais vão se encontrar. Blessings, em ambas as versões, também traz sacadas inteligentes e inspiradoras sobre as bênçãos recebidas ao longo de sua vida. A relação de Chance com Deus, com sua mulher e com seu recém nascido filho estão presentes ao longo do disco e nos ajudam a entender o tom mais sóbrio e celebratório, uma evolução clara do que vimos em seus trabalhos anteriores.

Chance parece enxergar o Hip Hop de uma maneira diferente da maioria. Enquanto outros lançamentos do estilo parecem ter uma postura mais agressiva, mais ativa em suas composições, compondo música pra dirigir em ruas movimentadas de janela aberta e com o braço pra fora demonstrando sua “atitude”, Coloring Book nos mostra uma alternativa mais “na sua”, mais colorida e mais carismática, influência clara dos primeiros trabalhos de Kanye West, além da presença constante do Jazz e do Gospel.

Esta terceira mixtape comprova o que já imaginávamos, Chance The Rapper tem muito talento, carisma e transfere isso pro seu Rap inteligente envolto por melodias bem inventivas. Mas Coloring Book ainda não é o trabalho que imaginávamos levar o estilo a um novo patamar, algo que esperamos de nomes como Kanye West, Kendrick Lamar ou Frank Ocean, com quem muitas vezes Chance divide as atenções. Enquanto isso, este agrupamento de ótimas canções que nos apresentam caminhos diferentes pro futuro de Chance The Rapper nos inspiram um otimismo sempre bom de encontrar na música Pop.

(Coloring Book em uma faixa: Blessings)

Ouça o álbum completo no Apple Music

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BOM PARA QUEM OUVE: Anderson .Paak, Kanye West, Outkast
MARCADORES: Hip Hop, Ouça, Rap

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.