Resenhas

Charlotte Day Wilson – Cyan Blue

Com atmosfera onírica, segundo disco da artista canadense passeia por R&B e soul em melodias delicadas e arranjos complexos

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Ano: 2024
Selo: XL Recordings
# Faixas: 13
Estilos: R&B, Soul
Duração: 40'
Produção: Charlotte Day Wilson, Jack Rochon, Leon Thomas

Até este ponto, Charlotte Day Wilson parecia uma ótima coadjuvante em sua própria carreira. Estrelando (e brilhando) em diversas parcerias ao longo dos últimos anos – talvez as mais famosas ao lado dos também canadenses do BadBadNotGood –, ela surgia mais como intérprete das músicas que lhe eram oferecidas. Alpha, seu disco de estreia lançado em 2021, tentou quebrar essa impressão, mas, apesar de carregar ótimos momentos, o álbum ainda mostrou uma artista aquém de todo o potencial apresentado em suas parcerias.

Cyan Blue, seu mais recente disco, chega para transformar esse panorama. Composto de 13 canções, o álbum passeia por terrenos e moods diferentes, sempre se apoiando no vocal singular de Wilson e sua habilidade de criar melodias potentes – seja em baladas minimalistas ao piano (“New Day”) ou em investidas mais eletrônicas (“Last Call”). Ao lado dos produtores Leon Thomas e Jack Rochon, Charlotte viaja por diferentes atmosferas, com arranjos sofisticados e timbres cuidadosos. É um tipo de disco que soa fresco e, ao mesmo tempo, atemporal.

Liricamente, o álbum também é um avanço em relação ao seu antecessor. Aqui, Wilson consegue abordar relacionamentos de forma complexa (como na vívida “I Don’t Love You”) ou trazer à tona temas como a parentalidade queer (na própria “New Day”). A profundidade emocional das letras mostra um lado bastante íntimo da cantora, que expões suas vulnerabilidades, desejos e reflexões de forma crua –s como se Charlotte não tivesse medo de jogar os holofotes nessas partes de sua vida. Talvez a maior potência deste álbum esteja na aliança entre sinceridade e sutileza com que as imagens sonoras são pintadas para os ouvintes.

Em um encontro onírico entre soul e R&B, Charlotte Day Wilson nos convida para um passeio pelas paisagens azuladas de sua mente. Sua voz e os toques gentis em seu piano ornamentam uma jornada de emoções e anseios que, embora densa, nunca perde a leveza. São melodias delicias nos guiando por temas às vezes espinhosos – como um lembrete de que mesmo as memórias mais dolorosas podem se tornar substrato poderoso para a arte.

(Cyan Blue em uma faixa: “My Way”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts